O director executivo do Zona Jovem está a realizar um sonho e a unir o útil ao agradável: ao tempo em que faz uma homenagem à cidade capital que adora exaltar, está também a impulsionar o meio musical local, cenário no qual está inserido desde a década de 80 como criador e realizador. Figueira Ginga, um empreendedor e amante da música, está à frente do Serenatas a Kianda, projecto musical a iniciar nos dias 3 e 4 de Junho com dois shows que marcarão o encontro do brasileiro Jorge Vercillo e do angolano Filipe Mukenga no palco da Casa 70, em Luanda. “Serão encontros clássicos e intimistas, aproximandose do conceito de uma serenata, com aposta em instrumentos acústicos. Queremos tirar a juventude da sua zona de conforto musical e incutir outros estilos musicais de elevadíssima qualidade”, resume. No dia 28 de Julho será a vez do encontro entre o angolano Gabriel Tchiema e brasileira Maria Gadú.
Seguem trechos de uma conversa com Figueira Ginga, realizada esta semana, durante a produção do Serenatas a Kianda.
Como se deu o seu encontro com a música?
Comecei a fazer música em 1986, no colectivo Aviluppa Kuimbila, do qual faz parte o
grupo musical “As Gingas do Maculusso, e do qual faço parte como músico e coordenador
geral, tendo participado na direcção executiva e musical dos quatro primeiros discos que
fizeram um enorme sucesso nacional. Dentro desse colectivo, participei da produção de
vários shows e, em 1999, fui para Portugal onde licenciei-me em gestão de empresas e,
como músico, fiz vários espectáculos para a comunidade lusófona, além de produzir
shows para a Embaixada de Angola e outras associações angolanas.
Como surgiu a ideia do Serenatas e como o projecto foi viabilizado?
A ideia do projecto Serenatas a Kianda surgiu da vontade de homenagear culturalmente a
cidade da Kianda, Luanda, nossa cidade-mãe, por tudo que ela representa para Angola.Por outro lado, a ideia é criar mais uma forma de dar visibilidade e palco a artistas angolanos que fazem estilos musicais que têm pouca visibilidade mas que são de grande qualidade, tal como Filipe Mukenga e Gabriel Tchiema, que fazem parte do elenco da primeira temporada do Serenatas a Kianda.
Houve algum incentivo financeiro externo ou algum prémio que mereça
destacar?
De momento não temos apoio financeiro mas continuamos à procura, a bater portas, e
temos fé que os apoios surgirão, porque o Serenatas, pela sua diferença e qualidade,
enaltece a cultura e a música angolana em particular e o país em geral.
Como você vê o cenário de produção cultural de Angola? Demos muitos saltos,
não? Mas o que ainda nos falta?
Há muita coisa ainda por fazer no sentido de dar a conhecer a nossa cultura. Mas já
temos bons exemplos de empreendedorismo nesta área que devem ser enaltecidos como
é o caso da LS e Republicano e a Nova Energia na área musical. Mas acredito que, com
mais apoio por parte de entidades privadas, podemos fazer muito mais, porque existe
espaço para mais empresas, para mais cultura e é preciso criar formas de manter os
nossos artistas activos e em grandes palcos nacionais. E a Lei de Mecenato poderá ser
uma alavanca para o crescimento da indústria cultural.
Como resume a história da Zona Jovem?
A Zona Jovem Produções foi criada em 2009, na perspectiva de apresentar produção cultural diversa, diferente e ousada, quando realizou o primeiro grande show de stand up comedy em Luanda, que foi o “Humor à três” e que teve a participação de dois ótimos humoristas angolanos da altura, que eram Pedro Nzagi e Calado Show, e, para completar, convidamos o humorista português Fernando Rocha. O show foi o enorme sucesso contando com uma assistência de aproximadamente 5 mil pessoas no Cine Karl Marx em Luanda.
A Zona Jovem tem mais projectos na gaveta?
De momento estamos totalmente engajados em dar vida ao Serenatas à Kianda, e, desde
já, apelamos às entidade privadas a juntarem-se a nós apoiando a solidificação do
mesmo, na certeza que a cultura angolana sairá a ganhar. Além deste projecto, outros
estão em carteira mas, de momento, é muito cedo para revelar.