Um artigo elaborado pelo psicólogo e docente da Universidade Agostinho Neto (UAN), Catarino Luamba, actualmente doutorando em Portugal, levanta a hipótese de que 99% da população angolana nunca teve acesso a um psicólogo ou psiquiatra. O estudo revela ainda que cerca de 90% dos cidadãos nunca beneficiaram de programas sociais ligados à saúde mental e bem-estar, evidenciando a fragilidade das políticas públicas nesta área.
Segundo o especialista, os traumas da guerra civil continuam presentes no comportamento social e político do país, mas nunca foram tratados de forma adequada. Muitos sinais, como a violência, a cleptomania, a ausência de empatia e a intolerância face ao pensamento divergente, são reflexos de feridas psicológicas não saradas.
A investigação também estima que, em cada dez angolanos, entre dois a quatro apresentem dificuldades graves de saúde mental, incluindo incapacidade de lidar com a rejeição, uso excessivo de drogas, perturbações de personalidade ou doenças psiquiátricas mais severas. Sem investimentos consistentes na educação, em programas sociais interdisciplinares e na investigação científica, o cenário poderá agravar-se nos próximos anos.
O psicólogo recomenda medidas urgentes para inverter esta realidade, entre as quais se destacam: o mapeamento científico das principais doenças mentais, a criação de programas de promoção, prevenção e intervenção, a reforma dos serviços de psiquiatria com base em centros municipais e comunais, a implementação de políticas públicas específicas e a obrigatoriedade de gabinetes de apoio psicológico e pedagógico em escolas e universidades. “Com as condições que temos, com as nossas limitações e dificuldades, pelo bem do nosso futuro, precisamos começar”, defende.
Por: Nunes Hebo









