A escassez de produções de ficção angolana nas principais cadeias televisivas tem gerado cada vez mais debates e inquietações no meio artístico. Em entrevista ao Platina Line, actores de referência como Manuel Teixeira (Avó Ngola), Nelo Jazz (Papa Ngulo), Mac Gonel e Adérito Rodrigues partilharam as suas visões sobre a situação.
Na entrevista, todos foram unânimes em apontar que a principal responsabilidade recai sobre o Estado, por não implementar políticas eficazes de incentivo à produção cultural. “É necessária a criação de editais, o financiamento de projectos credíveis e o estabelecimento de parcerias com televisões estrangeiras, como as do Brasil e da Turquia”, afirmou Adérito Rodrigues, acrescentando: “Sem um programa estruturado de apoio à ficção, a indústria não avança.”
Entre os obstáculos que dificultam o crescimento do sector, os artistas apontaram a falta de investimento, a escassez de formação técnica e artística, bem como a desvalorização da narrativa cultural local.
Para Mac Gonel, a preferência das televisões por conteúdos mais baratos, como reality shows e programas de entretenimento, demonstra que a ficção não é tratada como um sector estratégico para a preservação e promoção da identidade cultural do país.
Por outro lado, Manuel Teixeira destacou que, sendo a TPA um órgão público, deveria ter uma responsabilidade acrescida. “A TPA deveria liderar o movimento da ficção angolana. A ausência de conteúdos nacionais é um sinal negativo e preocupante.”
Já Adérito Rodrigues acredita que tudo depende de quem está à frente das direcções televisivas. Para ele, é fundamental que haja lideranças sensíveis às artes e comprometidas com o desenvolvimento do sector. “Pode não ser tarefa directa da direcção, mas é ela que decide o que vai para o ar. E isso influencia directamente a valorização, ou não, da nossa cultura.”
Por: Ivaldimildo Matias