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    A Pressa é Inimiga do Prazer

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    Poderá uma relação sexual ser satisfatória sem preliminares, perguntam alguns. Qual a função e o lugar dos beijos e carícias e de outras actividades trocadas entre dois amantes, consideradas por alguns como a primeira fase do acto sexual? Por certo encontraremos tantas equações possíveis quantos indivíduos, e nesse sentido é provável que a rapidez, a velocidade, nem sempre jogue contra o prazer. Às vezes também faz subir a adrenalina e conspira a favor do prazer. De outra forma, como poderíamos tirar tanto êxtase da célebre ‘rapidinha’? Quem nunca passou pela experiência, como diz uma amiga minha, ‘pelo menos já fantasiou com ela’.

    Nuno Nodin, psicólogo com investigação feita na área da sexualidade, concorda que a pressa não é forçosamente inimiga do prazer. “O prazer pode-se ter sempre em qualquer situação, em qualquer contexto, dependendo de vários factores além do tempo. Nomeadamente a atracção que existe pela outra pessoa, o interesse e a motivação ou, muitas vezes, até o risco associado à situação.” Estas condições podem influenciar o prazer, aumentando-o, ainda que não exista uma ‘preparação’. Na ‘rapidinha’ tudo acontece de forma estonteante, sôfrega, tem carácter de urgência. “Às vezes, uma atracção forte entre dois desconhecidos pode resultar numa relação sexual fantástica, com imenso prazer, e também não há assim tantos preliminares.”

    O psicólogo lembra que o “o sexo é muito moldável, adaptável a diferentes contextos e a diferentes situações em que as pessoas se encontram ”. E que mesmo nas situações em que “o que se faz é na base condicionado” pelo tempo que se dispõe, a qualidade da experiência não tem de ser necessariamente beliscada. Quantidade e qualidade não são a mesma coisa. Contudo, pensando de forma genérica, diz: “É verdade que o tempo que se investe numa relação íntima a dois, com tudo aquilo que se pode fazer numa relação física, pode potenciar e tornar uma relação sexual no seu conjunto ainda mais agradável.” 

    Há quem considere os preliminares um investimento igualmente importante ao nível emocional. São uma forma de descobrir e descobrir-se, desvendar as zonas de prazer do corpo. É mais um caminho de aprendizagem do que o outro gosta ou prefere e como prefere. “Se falarmos numa relação de longa data ou já estabelecida já se sabe quais os botões em que se carrega, pois as pessoas são muito diferentes nesse sentido”, observa Nuno Nodin, lembrando que o que provoca excitação e prazer difere muito entre as pessoas. Por exemplo, umas gostam mais do toque do que outras, gostam de ser tocadas em zonas específicas do corpo, umas gostam muito de ser massajadas outras não, algumas são mais visuais, outras mais auditivos e olfactivas. No tipo de relação em que as pessoas já se conhecem de cor, “normalmente é mais fácil tocar nesses botões todos, os ‘preliminares’ são importantes neste aspecto”. Num contexto oposto, em que as pessoas “não se conhecem tão bem, é interessante também no sentido de descobrir exactamente quais são esses botões”, diz. À medida que vai provocando respostas no outro, ou não, vai-se descobrindo o que ele prefere.

    Mas, afinal, o que entender por preliminares? No dicionário de língua portuguesa encontramos a seguinte definição: ‘Preparar para algo que se considera mais importante.’ A maioria das pessoas enumera os beijos, as carícias e o sexo oral como algumas das actividades que fazem parte deles.
    “Esta é uma longa discussão”, diz Nuno Nodin, explicando que tudo pode ser preliminar, no sentido de uma actividade anterior ao coito. Ou não, noutro contexto. O que parece começar mal é o próprio conceito de preliminar. “Tem muita a ver com a nossa cultura e a forma como nós encaramos o sexo. Ou seja, para nós, sexo é penetração vaginal, ou anal eventualmente. E, portanto, neste sentido o preliminar é tudo o que acontece antes. Como se, se não houvesse esse acto, não houvesse sexo”, explica.
    Hoje fala-se muito mais de sexo e muito mais abertamente. No entanto, continua a haver zonas cinzentas sobre o assunto, temas tabus e muitos mitos. O que é sexo é um deles. O que é ou não preliminar o outro. 
    No seu livro intitulado Consultório Sexual para Toda a Criação (Quetzal), Olívia Judson escreve: “Perguntem a diversas criaturas o que é o sexo e elas dar-vos-ão diferentes respostas. Os humanos e muitas outras espécies dirão que é a cópula. As rãs e a maioria dos peixes dirão que é a emissão de ovos e de espermatozóides nos estremecimentos conjuntos da desova.”

    Um número cada vez maior de especialistas em psicologia e sexualidade, com obra editada sobre o assunto, opõe-se ao conceito generalizado de sexo reduzido à penetração. E até à própria concepção de preliminar. “A menos que assim o desejes, não admitas que a estimulação manual seja a portagem prévia do coito. Não pertence à secção de jogos preliminares (erradica esse conceito odioso do vocabulário)”, escreve Sylvia de Béjar no seu livro O Sexo no Feminino (Bertrand).

    Rachel Swift admite que preliminares lhe “soa a terapia sexual, sem humor nenhum, piegas e deprimente”. No seu livro Satisfação Garantida – os segredos mais bem guardados das mulheres (Oficina do Livro), escreve ainda a propósito: “Preliminar é uma designação errada: sugere que a penetração é o ‘ponto máximo’ e que o resto é apenas aquecimento. Carícias é mais directo: são as coisas eróticas que homens e mulheres fazem entre si, independentemente da penetração. Podem acontecer antes, durante, depois ou mesmo substituir a penetração. A carícia pode ser tão sensual até onde a levar a imaginação.” A autora lembra que até mesmo as sociedades menos românticas são indulgentes com esta prática. E recorda o relato de um antropólogo sobre o “afecto entre sexos” praticado entre os Sirionos da América do Sul, que nem sequer acreditam no amor. “Isto reflecte-se claramente no comportamento que assumem na rede…. arranhando-se e beliscando-se no pescoço e no peito e mexendo nos olhos um do outro…”
    Da mesma forma que se criou o mito que sexo é apenas penetração e que o que o antecede como actividade erótica é preliminar diz-se que as mulheres têm mais necessidade destes que os homens. Que elas dão mais importância à troca de carícias e abraços antes da penetração.
    Sem diferenciar uma coisa da outra ou contextualizar esta actividade, Helen Fisher, a antropóloga autora do livro O Primeiro Sexo (Presença), escreve: “As mulheres também gostam mais de beijar, abraçar, acariciar e se aninhar, colocam o acto sexual num contexto físico mais vasto.” Elas verbalizam mais as suas emoções do que os homens e são mais sensíveis ao toque, prossegue Fisher que explica esta apetência feminina “por tocar e ter sexo romântico e afectuoso com parceiros que lhe são familiares, por uma razão evolucionista: o facto de ser mãe”. Se conversar com e tocar no companheiro antes disso, ela pode avaliar-lhe o temperamento e intenções, e perceber “se ele está disposto a empenhar-se no ‘sustento’ da casa”.

    Nuno Nodin diz que o estereótipo é que “os homens mais rapidamente passam de um estado de não acção a um estado de acção, passam rapidamente para o coito e para o orgasmo, eventualmente até sem coito”, enquanto que a mulher “precisa de um investimento ao nível dos preliminares pelo seu próprio padrão de sexualidade e de excitação, mais visual e afectivo, por exemplo”. Mas recorda também que há mulheres que têm um padrão considerado atipicamente masculino, no que respeita a esta necessidade, e homens que o tem atipicamente feminino. “Há homens que admitem não conseguir ter relações sexuais com estranhos, para terem interesse sexual têm de conhecer um pouco o outro”, observa. Isto significa que as pessoas são diferentes, e ainda bem que as coisas evoluem neste sentido. “É preciso desmistificar a ideia de que sexo é coito, pois pode haver uma actividade sexual muito satisfatória sem que ele tenha lugar. Tudo pode ser sexo. Quanto aos preliminares, há quem diga que começam no jantar a dois”, resume Nuno Nodin.

    Mais uma vez é importante avisar que no amor e no prazer as regras são ditadas pelos amantes, só eles precisam de estar em sintonia. Para viver o afecto e a sexualidade, sem vergonha do que sentimos e precisamos, é preciso libertamo-nos dos últimos fantasmas.
    Por Júlia Serrão
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