Desde os meus doze anitos que ouço essa frase ser proferida da boca de meu pai e confeço que nunca tinha entendido ao certo o que ele queria ensinar-me com essa frase. Hoje, com meus vinte e poucos anos e quase terminando a carreira dos dois ponto zero cai em mim e entendo perfeitamente o que meu pai quis que eu entende-se. Cada um dorme na cama que faz é a mesma coisa que destino, futuro, o amanhã. Somos nós quem o traçamos e não ele que nós traça.
Podemos sim ter controle da nossa cama. Para mim só não temos controle do lugar onde vamos nascer. Ninguém escolhe nascer na Europa ou na África, com pais ricos ou pobres, bons ou maus, preto ou branco. Sobre isso ninguém tem escolha. Não nos foi dado o direito de escolher em que chão iríamos cair. Mais depois acredito que muito podemos fazer para traçar um destino ao nosso favor.
Educação não é poesia. A que fazer de tudo para que dê certo e colocar alguém no mundo que mesmo não fazendo do mundo um lugar melhor para se viver, não o venha torná-lo pior. Mais se não der certo fazer o quê? É sabido que aqueles que tudo fizeram para que desse certo, quando vêem seu fruto apodrecer o fazem com pesar mais com menos peso de consciência pois sabem que o colocaram no mundo e deram as orientações precisas e necessárias para que o fruto depois de amadurecido pode-se emanar o seu próprio perfume. Agora se amadureceu até ficar podre ou parou na verdice da vida e se deixou pegar pelas pragas e ervas daninhas fazer o quê?
Tarde ou cedo a que começar a andar pelas próprias pernas e deixar cair as muletas que nos conduziram até a auto-estrada. A que encarar o além e decidir que caminho escolher. Se seguimos adiante, se a esquerda ou a direita ou se voltamos a olhar para trás pedindo colo mais uma vez. E quando chegar a hora a pergunta que não vai querer calar vira a tona e a voz a de soar quer queiramos ouvir ou não: e ai, aprendeu a fazer a cama? Porque cada um dorme na cama que faz.
Por isso é tão importante ensinar os filhos a fazerem a sua própria cama logo ao acordar porque assim já aprendem que cada um deve ser responsável pelos seus próprios actos. Se nos deitamos para dormiu em nossa cama e tivemos força de rebolar ao máximo, desfazer a cama até dizer basta então também temos força para a arrumar. Ah! como temos. E não importa se um primo (a) ou irmão (a) teve de a partilhar connosco. De manhã quem tem de fazer é o dono dela que somos nós para que assim possamos aprender que não importa quem passe pela nossa vida o estrago feito nos irá atingir sempre pois a vida é nossa e não a como pedir férias de nós mesmos. E devemos nos lembrar que as pessoas rebolam na nossa vida a torta e a direita porque assim o permitimos. Porque se ensinarmos a todos quanto entram na nossa vida a fazerem também a sua cama ai eles entenderão que não são nossos donos e não podem fazer de nossas camas aquilo que bem entenderem.
Cada um dorme na cama que faz é uma frase profunda e cheia de sabedoria. Tenho tido um cuidado danado com a minha cama. Escolho os melhores lençóis. Gosto de coisas com qualidade. Um bom lençol francês, com bordados bem detalhados uma colcha do bom veludo alemão e como disse tão bem minha querida Afro almofadas com algodão egípcio.
Se nós não aprendermos a fazer nossa cama, ninguém fará por, nós e se assim permitirmos podemos vir a dormir bem porque tem muita gente que entra na nossa vida para torná-la melhor ou ter o pesadelo de passar o resto de nossas vidas dormindo encima de sacos de pano, numa cama de estrado de tijolos acordar com cosseira e uma dor de cabeça daquelas e com uma voz a martelar em nossa cabeça o tempo todo dizendo: minha filha (o) o que foi que te faltou, se eu te ensinei a fazer a tua própria cama?
Aprendamos a fazer nossas camas para podermos ter um sono tranquilo e não corrermos o risco de padecer da síndrome culposa de que se tudo na minha vida esta assim é por causa de fulano (a) Sicrano e Beltrano. Prestemos atenção aos lençois que as pessoas que estão ao nosso redor trazem para ao nosso lado se deitar.
“Carpe diem”
Autora do texto: Angelina de Sales