Verdades Secretas, a obra de Walcyr Carrasco que ganhou um Emmy, em emissão na GLOBO HD, de terça a sexta-feira, marcou também a grande estreia de Camila Queiroz como actriz.
ENTREVISTA COM CAMILA QUEIROZ
Como você descreveria a Arlete (Angel) e como foi o processo da sua construção?
No começo da história temos uma menina de 16 anos que vive no interior de São Paulo com os pais e sonha em ser modelo. Arlete chega a São Paulo em busca dos seus sonhos depois de uma dura separação dos pais e percebe que as coisas não são tão simples assim, as pessoas são bem mais cruéis do que poderia supor. Acho que a partir daí ela descobre um novo mundo e passa a ter de fazer escolhas, mas escolhas sempre geram consequências. Paralelamente, vemos a personagem amadurecendo e se descobrindo também como mulher e sobre sua própria sexualidade.
Qual a principal lembrança que você tem do período de gravação?
Eu me lembro de tudo, de cada detalhe. Por ter sido o meu primeiro trabalho como atriz, quis absorver tudo e curtir muito cada momento que vivi. Uma coisa que era dominante nos nossos bastidores era a intimidade e união do elenco. Construímos uma relação muito boa e isso fazia com que os nossos bastidores fossem leves e cheio de amor.
Qual foi o principal desafio desse trabalho?
Todo o trabalho. Do início ao fim. A Angel é uma personagem desafiadora. Ela tem muitas nuances e camadas. Eu acredito que todo o actor sonhe com personagens complexos, que exijam mais de nós. Eu amo desafios, eles tornam o trabalho mais estimulante para mim.
O que mais aprendeu do ofício ao interpretar a primeira vez uma personagem com tanto peso?
Aprendi a respeitá-lo mais do que nunca. Aprendi muito sobre mim também. Minha auto concentração. Sempre fui amante das telenovelas e sempre tive paixão por esse trabalho.
O público abordava-a muito nas ruas por causa do enredo quando ela foi exibida originalmente?
Muito. Muito mesmo. E eu ao mesmo tempo que amava toda essa reação e carinho com o meu trabalho, me assustava, porque nunca imaginei que um dia isso pudesse acontecer e que de repente tantas pessoas fossem se interessar em saber sobre mim ou meu trabalho. Mas isso só mostra o quanto o público recebeu bem a história e a personagem e eu tenho muita gratidão por isso.
‘Verdades Secretas’ fez muito sucesso em 2015. A que você atribui o êxito da história, e como acha que será a recepção do público agora?
Acho que ‘Verdades’ foi inovadora. Tudo era muito encaixado e afinado. Texto, direção, fotografia. Sua ousadia. Trouxemos questões para serem discutidas pela sociedade. Falamos sobre a hipocrisia, falta de ética…. Colocamos o dedo em algumas feridas que provocaram discussões e ainda provocam. E essa é uma das funções da arte: gerar debates, opiniões, críticas, discussões, enfim, trazer os mais diferentes temas. Seis anos depois parece tão pouco, mas sinto que evoluímos muito de lá pra cá. Talvez algumas coisas não sejam mais aceites ou vistas da mesma maneira que foram, que bom. Serão novos pontos de vistas da história e eu estou doida pra acompanhar tudo isso.
Você pretende assistir novamente? É muita autocrítica ao rever um trabalho antigo?
Pretendo sim, eu sou apaixonada por esse projecto e será a primeira vez que verei depois de 2015. Desta vez pretendo conseguir assistir tudo. Eu sempre fui muito autocrítica, mas tenho tentado cada vez mais ter empatia e compaixão por mim mesma e entender que eu fiz o melhor que podia ser feito naquele momento.
Os bastidores dos desfiles e da agência eram agitados e cheios de intrigas. E como eram os bastidores de gravação? O que lembra com mais carinho?
Eram mesmo (risos). Todos nós éramos muito unidos e todos queríamos que o projeto fosse um sucesso, então cada um deu o seu melhor e vibrávamos juntos o sucesso e a aceitação do público. Um facto curioso é que o primeiro desfile da Angel levou cinco dias para ser gravado no total. Entre bastidores e passarela. Em três locações diferentes. Um show mesmo!
Como era para você contracenar com veteranos no seu primeiro papel?
Eu tive a sorte e o privilégio de tê-los ao meu lado. Estenderam-me a mão. Foram o meu apoio, escola. Aprendi tanto. Tenho muita gratidão por cada um e por tudo o que me ensinaram