O site wikipédia define Planeamento como uma ferramenta administrativa, que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturando o trâmite adequado e reavaliar todo o processo a que o planeamento se destina. Sendo, portanto, o lado racional da acção. Tratando-se de um processo de deliberação abstrato e explícito que escolhe e organiza acções, antecipando os resultados esperados. Esta deliberação busca alcançar, da melhor forma possível, alguns objectivos pré-definidos.
A mesma fonte define ainda Planeamento Familiar como conjunto de acções que têm como finalidade contribuir para a saúde da mulher e da criança e que permitem às mulheres e aos homens escolher quando querem ter um filho, o número de filhos que querem ter e o espaçamento entre o nascimento dos filhos, o tipo de educação, conforto, qualidade de vida, condições sociais, culturais e seus níveis, conforme seus princípios de necessidade.

Quem dera que metade de nós jovens soubesse planificar, quem dera que soubéssemos traçar o que queremos, quando queremos e como queremos. Se soubéssemos fazer isso, se alguém se tivesse preocupado em nos ensinar a fazer isso, teríamos evitado metade dos nossos problemas actuais, talvez a sociedade não se teria queixado tanto de nós. Se metade dos nossos adolescentes e jovens tivesse aprendido o que é planeamento familiar se calhar não teríamos tanta criança abandonada e na rua, se calhar não teríamos tanta zungueira e se calhar não teríamos tanta delinquência como temos.
O que acontece ou o que se espera de um casal de jovens namorados (adolescentes), que sem planeamento engravida? Um casal que mal sabe que tipo de educação irá dar ao filho que espera? Que mal sabe o que terá de fazer para garantir o sustento deste filho? As possibilidades de uma relação destas dar certo e formar uma família como se deseja são muito limitadas e muitas vezes mesmo nulas. Sem emprego e sem nenhum acompanhamento, muitos desses jovens começam por abandonar os estudos porque agora têm uma responsabilidade (quando a encaram como tal, pois para a maioria é um problema ou o princípio de vários problemas) e como consequências temos o jovem que não assume, a jovem que se vê a ter que aguentar sozinha com as consequências de uma gravidez indesejada e como mãe solteira temos possivelmente uma próxima zungueira senão mesmo prostituta.
Temos vindo a assistir o crescimento do número de adolescentes grávidas, de mães solteiras e filhos abandonados, e como quase tudo na nossa sociedade todos procuram culpados apontando dedos uns aos outros mas solução de verdade ninguém encontra. Uns preferem fugir das suas responsabilidades e culpar as novelas brasileiras que passam na TPA e nos diversos canais assistidos em Angola. Mas até onde vai a culpa destas novelas? Na maioria delas (pelo menos as que eu vi) quando se falou de namoro na adolescência apontaram-se soluções e deram aulas durante vários capítulos sobre a prevenção e os perigos de um namoro nesta fase. Se aprendemos nas novelas então era suposto que tivéssemos aprendido também a nos prevenirmos e até a fazer um planeamento, mas a realidade mostra que a nossa juventude aprende com facilidade o que é mau do que o que é realmente correcto ainda que tenha diante de si todas as condições para isso.
Cá entre nós, de quem é a culpa? O que pode ou deve ser feito? Do estado e das famílias (pais). O estado tem que criar condições para que haja educação, para que o cidadão aprenda e com qualidade. O estado deve criar condições para que tenhamos na sociedade famílias no verdadeiro sentido da palavra e não famílias desestruturadas por razões que muitas vezes podem ser evitadas. Uma vez identificado o problema, o estado deve ou deveria imediatamente começar um programa de educação sexual e planeamento familiar a todos os quadrantes, em todas as línguas nacionais e em todos os pontos, um programa que não envolva apenas algumas ONG´s e hospitais como acontece, mas que envolva toda sociedade civil e não só. O problema de gravidez precoce é já tão sério na nossa sociedade que já devíamos ter nas nossas escolas disciplinas de educação sexual, e é responsabilidade do estado fazer isso através do ministério da educação em parceria com o da família.
Mas nesta luta toda os pais continuam a ser os que têm mais responsabilidades, a educação é sempre responsabilidade deles e os nossos precisam aprender a quebrar os tabus que trazem do seu tempo. Já dizia o filósofo que “o defeito dos velhos é olhar o futuro com a nuca”. Pois é, é tempo de pegarem na educação do vosso tempo e adaptarem-na a realidade do nosso, é preciso começar a falar sobre sexo em casa com os filhos, não basta dizer para não namorar, de nada serve dizer a uma filha que se ficar grávida vai sair de casa, vai trabalhar pra pagar a escola. Mais do que proibir a namorar é necessário ensinar a namorar. Normalmente o que é proibido é “gostoso” e desperta a curiosidade, é aí que surge o problema. Normalmente o que dizem ser proibido em casa, ela ouve das colegas e amigas e atiça a curiosidade, surge a contrariedade entre o que se recebe em casa e o que se ouve fora ou se lê nas revistas, internet e outros. Os pais têm que começar a falar de sexo com os filhos antes mesmo de estes começarem a se interessar por isso, os pais têm que começar a ensinar cada detalhe sem impor, sem incutir medo, e pela velocidade que as coisas levam convém começar a fazê-lo a partir mesmo dos 10, 12 anos. Se não se fizer isto, se não se ensinar aos rapazes a ser responsáveis pelo que fazem, se os pais continuarem a falar da gravidez com os filhos como um crime, se continuarmos a proibir ao invés de ensinar continuaremos a ver crianças, adolescentes e jovens grávidas, continuaremos a ver crianças abandonadas nas ruas, continuaremos a ver jovens na zunga com filhos às costas, continuaremos a assistir fugas de paternidade.
Muita coisa por se dizer e muito tem que ser feito, mas a responsabilidade é de todos e cada um de nós pode e deve ser um activista do planeamento familiar. Cada um de nós tem que passar a mensagem da melhor forma possível, e os pais de hoje, o estado, têm mesmo que assumir o seu papel e começar já, ou continuaremos a ver os mesmos erros e a piorar as consequências.








