Uma menina brasileira de 10 anos que engravidou de um tio, após quatro anos de sucessivas violações, foi chamada de assassina por um grupo de manifestantes antiaborto ao entrar no hospital, no Recife, nordeste do Brasil, onde iria efetuar o procedimento, previsto por lei nestes casos.
Segundo os manifestantes, que fizeram um cordão em torno do hospital para impedir o aborto, a gestação já havia ultrapassado as 20 semanas, o que tornaria a intervenção médica ilegal. O limite legal no Brasil para o aborto quando a mulher é vítima de violação é de 22 semanas de gestação e 500 gramas de peso do feto.
A polícia teve de intervir para defender os médicos da unidade, também chamados de assassinos.
A menina chegou ao Recife, capital do estado do Pernambuco, depois de viajar, acompanhada pela avó e por uma assistente social, de Vitória, a capital do Espírito Santo, o seu estado natal, porque o hospital a que ela recorrera naquela cidade se recusara a fazer o aborto, pedindo-lhe para que voltasse nas próximas semanas – entretanto, a menina contraiu diabetes gestacional e corre risco de vida se continuar grávida.
Na sexta-feira, o juiz Antônio Moreira Fernandes atendeu a um pedido do Ministério Público, favorável à interrupção da gravidez. Na decisão está escrito que “é legítimo e legal o aborto acima de 20 a 22 semanas nos casos de gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia fetal”.
Na viagem, em avião comercial, era suposto a identidade da criança ter sido mantida sob anonimato, mas Sara Winter, ex-ativista do grupo feminista Semen, entretanto convertida à luta contra o aborto e líder de um grupo armado radical de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, revelou-a nas redes sociais, gerando os protestos à porta do hospital.
A gravidez foi conhecida no dia 7, quando a menina recorreu a uma unidade de saúde ainda em São Mateus, pequena cidade a 200 quilómetros de Vitória, queixando-se de dores abdominais. Na ocasião, ela revelou que desde os 6 anos era violada pelo marido de uma tia. O homem, de 33 anos, foi indiciado pelos crimes de ameaça e estupro de vulnerável e está foragido.
A mãe da menina morreu recentemente e o pai está preso.