A escritora moçambicana Paulina Chiziane, vencedora do Prémio Camões de 2021, considera a sua distinção como um reconhecimento para alguém que veio de lugar nenhum e, sem dúvidas, uma inspiração para uma outra geração.
“Não sou aquela pessoa que se pode dizer eu vim de um estrato social x e nobre, não! Eu vim do chão”, disse Paulina Chiziane, admitindo ter ficado meia transtornada com a informação do prémio que de alguma forma foi uma informação satisfatória.
“O meu lugar preferido é ao lado da minha fogueira. Mesmo que seja num dia quente, não consigo ficar sem a minha fogueira. E de repente alguém me liga a dizer: Paulina provavelmente…… eu nem sequer me lembrava de que existia o Prémio Camões”, frisou.
Estes tempos de Covid-19, em que estão todos confinados em casa, Paulina conta que estava tranquila na sua vida camponesa, foi quando recebeu a notícia que era vencedora do prémio Camões. “Só sei dizer que a verdura que normalmente faço com aquele prazer, requinte e gosto, porque sou eu quem vai comer, acabou queimada, nem sei que sabor tinha. Fiquei transtornada”, enfatizou.
Para a escritora, este reconhecimento não vem para ela, mas para todo um povo que vê nela alguém que faz parte deles próprios. “Tudo que tentei escrever nos diferentes livros parte da nossa memória colectiva. O meu percurso foi uma luta própria. É verdade que encontrei amigos e gente que me deu força. Neste momento, me recordo do doutor Zeferino Coelho, da minha editora portuguesa A Caminho”, sublinhou Paulina Chiziane.
A escritora recordou, igualmente, que Zeferino Coelho encontrou-a quando tinha 30 anos, com sonhos de fazer um grande percurso, olhou para os seus escritos e achou que podiam ter um lugar no mundo.
“Este prémio apanhou-me sem dinheiro no bolso. Não estou em condições de festejar ainda preciso de comprar champanhe quando o dinheiro chegar (risos) ”, concluiu Paulina Chiziane.
Aos 66 anos, ela é a primeira mulher africana a vencer o prémio e leva para casa 100 mil euros.
Paulina Chiziane é hoje uma das vozes da ficção africana mais conhecida internacionalmente, sendo também a primeira mulher a publicar um romance por lá, a obra Balada de amor.