Elvina de Almeida, é uma jovem empresaria de sucesso, que começou a sua carreira no mundo dos negócios, como zungueira, os amigos a descrevem como uma pessoa extremamente humana, com um coração e alma, amiga, um pouco extrovertida, mãe, pai, essecialmente uma filha de Deus. ela também se considera bem Kaluanda pelo facto de ter nascido no mesmo dia da fundacão da cidade de Luanda em 25 de janeiro em 1985. É filha cacula de seis irmãos.
Platina: Conte-nos um pouco da sua história de vida até aqui.
V.C : Tive uma infância um pouco difícil, aos seis anos o meu pai decidiu sair de casa, deixando a minha mãe com seis filhos que precisavam de ser sustentados, e visto que a minha mãe vinha do Uíge, e não tinha muitos conhecimentos e nem bases para seguir em frente. Parti a primeira vez para o antigo mercado “Roque Santeiro”, acho que tinha seis ou sete anos de idade, lembro-me como se fosse hoje. Subi num camião, denominado por ” IFA” na altura, queria comprar um pacote de sumo para misturar com água para poder vender. Depois deste episódio, levei uma porrada porque a minha mãe não gostou, pelo facto de eu ser uma filha muito querida, e ela sentiu-se um pouco inútil por não conseguir proteger-me e aparecer no Roque. Mas a noite, quando ela viu os lucros ficou um bocadinho mais mansa e chamou-me a atenção pelos riscos que corri ao fazer o que fiz. Mas eu sempre me senti capaz de ajudar os meus irmãos. Nos fomos criados de forma muito diferente, eles já tinham passado por melhores momentos, nunca tinham passado por dificuldades, já eu não, comecei a descobrir a vida, pelo lado mau logo de início. Então achei-me no direito de ajudá-los. e daí para frente fui vendendo, zungando, vendi no “Roque Santeiro” no “Asa Branca”, no mercado do Prenda, no Rocha Pinto e o pouco que eu conheço da cidade de Luanda é pelo facto de ter vendido em vários locais. Tive um certo trauma quando aos 15 anos, um cliente habitual me queria violar, então eu cheguei a casa e fiquei com receio da reacção da minha mãe, por medo que talvez ela quisesse ou impusesse que eu deixasse de vender e eu pudesse vir a passar fome, absti-me. Então nesta altura, simulei que estava doente e entretanto o meu pai reapareceu, levou-me para a província do Kwanza-Sul, para que eu pudesse então ser assistida. Concluí lá mesmo o ensino médio, e ia mandando dinheiro para a minha mãe para ajudar no sustento dos meus irmãos. Após completar 19 anos, a minha mãe faleceu, foi a minha pior queda, porque naquela altura eu pensava que podia fazer tudo pela minha mãe, quando ela faleceu e decidi que tinha que parar. Participei por desafio da vida e porque eu gosto de desafios, no concurso Miss Kwanza-Sul, no qual fui eleita Miss Kwanza-Sul e o prémio era uma motorizada, visto que eu sou viciada em motorizadas. Um ano depois tive um relacionamento curto no qual, é fruto a minha filha, Rosa Mara, que hoje tem sete anos, mas como esta relação não deu muito certo, preferi deslocar-me novamente para Luanda. Reabilitei o apartamento em que cresci com os meus irmãos e fomos dando continuidade a vida. Felizmente a seis anos atrás conheci o Dr. Eugénio que é para mim um anjo na minha vida. Ele disse-me que sempre ouviu falar bem de mim, que eu sou uma pessoa batalhadora e me queria ajudar, e eu disse-lhe que não havia feito formação nenhuma e tudo o que sei foi com base nas experiências que vivi. Mandou-me para a primeira província que foi o Lubango para fazer uma pesquisa de mercado e para saber o que eu achava da província. e Por coincidência eu era amiga do governador que era o Senhor Isaac dos Anjos e ele explicou-me as necessidades da província que era mobiliário. e fui gostando dessa área de mobiliário, fiz-me formações, inteirei-me mais sobre a área de mobiliário e criei um certo vínculo com o Dr. Eugénio e passei a ser representante da mesma que era no Lubango, fora que também já tinha feito alguns eventos com o Xú, trabalhei com 3 Xú por cinco ou seis anos. E faço o que gosto, gosto de dançar e trabalhar, então são as coisas que faço com vontade. Desliguei-me do 3v Xú porque achei que tinha que dar um passo a mais na vida que era escolher uma área profissional que eu gostasse que era a imobiliária, trabalho até hoje com o Dr. Eugénio, adquiri conhecimentos e experiência e reabri a minha empresa que é a Vina Criolo produções e Vina Criolo Produções que existe a dois anos. Casei-me e separei-me, tenho três filhos, uma biológica e dois adoptados que para mim são iguais.
Sou uma mulher solteira e feliz, porque tenho pessoas que amo ao meu lado que são meus amigos, tenho a Jú que é a senhora que cuida da minha casa e é como se fosse minha mãe é a ela que recorro quando algo corre mal. Platina: Onde é que foi buscar tanta força e coragem para poder vencer essas dificuldades que teve na vida, e hoje é uma vencedora. V.C : Eu acho que é porque eu não levo muito a sério os choques que levei da vida, no momento posso até explodir, chorar e tudo, mas, depois olho para o céu e digo ” Obrigada meu Deus por existir”, e vou seguindo, porque se eu pusesse muito ” no coração” os obstáculos da vida eu realmente não iria aguentar.
Platina: Falou-nos que teve o apoio do Dr. Eugénio Neto, queria saber se em algum momento em que ele começou a ajudá-la a Vina começou a sentir-se mais relaxada ou pelo contrário, foi um impulso, para trabalhar e batalhar mais para conseguir alcançar os seus objectivos?
V.C : O Dr. Eugénio ensinou-me a ser mais profissional, como já disse, o que eu sabia eram ensinamentos da vida, então, em termos profissionais, o que eu sei hoje é graças ao Dr. Eugénio.
Platina: E quais foram estes ensinamentos que lhe foram transmitidos pelo Dr. Eugénio Neto? V.C : Uma das coisas que o Dr. Eugénio sempre me ensinou é que o corpo feminino não é para ser vendido, tem que ser conquistado, porque se a pessoa põe na cabeça que o corpo feminino é para ser vendido então nunca vai trabalhar. E se não trabalhares vais viver do que o teu corpo vende. Ele ensinou-me a pensar com a cabeça e a agir com o coração. Platina: E em quê que isso mudou na sua vida? V.C : Eu tornei-me mais mulher, quando conheci o Dr. Eugénio. Platina: Já ouve algum exemplo que ele deu no seu quotidianos que mudou e muda até hoje as suas atitudes? V.C : Já, ele sempre diz, ” Step by Step”.
Platina: Não teve muito ensinamento de gestão de negócios, administração. Como é que consegue gerir bem o seu negócio? Que ensinamentos as outras mulheres podem obter do seu exemplo?
V.C: Eu acho que a vida dá-nos o livro, e todo mundo tem que ler independentemente da interpretação de cada um. E eu realmente nem gosto de matemática, se eu consigo gerir bem a empresa é porque fico muito atenta, a alguns pontos nos quais a matemática está inserida, a humildade e acima de tudo responsabilidade, e apartir daí vou aprendendo como gerir a empresa.
Platina: Com quantos funcionários trabalha?
V.C : Neste momento são trinta funcionários fixos.
Platina: Nunca teve problemas com nenhum com a sua gerência?
V.C : Não, pelo contrário. Os meus funcionários dizem que eu sou a melhor chefe do mundo. Eu dou uma festa e acho que estou no direito de convidar todos os funcionários para cá estar. Até porque o funcionário tem que conhecer os dois lados do patrão.
Platina: Nota-se que é uma pessoa muito simples apesar do que foi adquirindo ao longo desses anos, e é uma pessoa muito humana. É fácil aproximar-se de pessoas assim, porque pelo que pude notar, o grande diferencial da Vina não é por exemplo saber muito de contabilidade ou gestão, mas sim saber lidar com pessoas, e no mundo actual saber lidar com pessoas é uma grande virtude, porque as relações humanas estão cada vez mais difíceis.
V.C : Essa é a proteccção que eu tenho. Para mim o ser humano nunca vai ser entendido, e por ter esse lado bom, há muitas probabilidades de encontrar pessoas más. Mas sempre que isso acontece, eu entrego nas mãos de Deus. Platina: E acha que convidar empregados para ir a uma festa organizada por si, incentiva-os a trabalharem mais?
V.C : Com os meus dá certo, motiva-os muito. Muitos deles dizem-me ” Se eu não tivesse que ajudar a minha família eu não receberia este salário”. Quer dizer que ele só não estão comigo só por causa do salário. Quando eles têm problemas eu oiço-os e na medida do possível ajudo sim. Procuro saber quem são as suas mulheres ou namoradas. As vezes peço-os conselhos, dou a eles o que se calhar como funcionária nunca recebi.
Platina: Agora vamos entrar para a área de eventos e produções… Como é que começou o interesse em fazer isso, disse-nos que já trabalhou com o 3 Xu… Como começou e como tem sido até agora?
V.C : Isso surgiu numa pequena brincadeira no Kwanza-Sul, após o falecimento da minha mãe, um amigo convidou-me para ir fazer a apresentação de um concurso e eu não aceitei, disse-lhe que não entendo nada de jornalismo, e não achei muito boa ideia, mas, ele insistiu dizendo que tenho um tom de voz bom e que talvez pudesse sair-me bem. E ao apresentar o concurso foram aparecendo diversos convites para fazer o mesmo. Mas depois comecei a notar que fazia aquilo como um pão de cada dia, uma prioridade, eu gostava e tudo mais mas acho que na altura tinha outras prioridades. Então passei a propôr que ao invés de eu apresentar queria participar, mas como sócia, sugeri que eu entrasse com a mão de obra e eles com o investimento, de maneira que eu pudesse orientá-los como organizar concursos de misses, organizamos passeatas, e fazendo o que de melhor sei fazer que é o lado solidário, das doações, e em contrapartida eu dizia, que se eu organizasse um concurso as pessoas dariam os donativos que seria o pagamento, e eu fui ganhando esse gosto até conhecer o 3 Xu e viciando-me mais ainda, e foi só dar continuidade aos eventos.
Platina: E hoje tem muitos clientes? Quais são os eventos para si, mais importantes que já tenha realizado?
V.C : Sim tenho muitos clientes, e dos eventos mais importantes que realizei foram o Miss Ingombotas, e as melhores festas que o 3 Xu já deu a nível nacional. E outros alguns eventos que eram realizados em Luanda, em que não era muito conhecida, aparecia como “sombra”. Sem nenhuma formação, aprendendo tudo com as pancadas da vida, e passo para os meus clientes o bom gosto que acho que tenho.
Platina : E passa isso para os seus funcionários, e na sua maioria são homens ou mulheres?
V.C : Passo sim, e a maioria deles são gays. E escolhi este tipo de pessoas porque eles dão-me tempo para pensar e são muito profissionais. Já com homens ou mulheres eu teria alguns problemas de família etc.
Platina: Falou-me dos gays e nota-se que tem uma relação boa com eles, e é de ressaltar que a nossa sociedade é um pouco injusta e preconceituosa para com os gays, como é que consegue ajudá-los, ou seja, não se sente com medo de ser rejeitada, ou de ser inserida no meio de pessoas que são excluídas pela sociedade por serem de certo modo diferentes?
V.C : Não, não sinto. Porque eu vejo os gays como a terceira opção de sexo, olho para eles não como se estivesse a ver uma mulher, mas como se estivesse a ver uma pessoa normal. Eu reflito muito em relação aos que os outros pensam, mas não sou obrigada a viver em função do que os outros acham que eu deveria viver. Então quanto aos gays, eu acho que se um dia tiver que ser rejeitada eu não me vou sentir ofendida. Mas levaria isso muito a sério. Porque quem julga é Deus. E tenho aprendido muito com eles, eles são muito verdadeiros.
Platina. Agora está com um projecto novo, super interessante, que é dar uma oportunidade para que as pessoas possam praticar desporto mas, também para levantar uma questão que pouca gente tem coragem de falar, que é a questão das injecções que toma, ou dos anabolizantes que se toma para conseguir o efeito desejado, e é um projecto perfeito, que junta o entretenimento, mas de outra forma chamando atenção a educação física, ou seja a educação que devemos dar ao nosso corpo para mantê-lo saudável. Como surgiu esta ideia, e quê que pensa em fazer nestes concursos, de forma e de ginásio?
V.C : O “garota ginásio” surgiu de uma idéia engraçada, nós estavamos a ver um concurso da Record e a minha filha disse-me porquê que existem concursos de Misses, de pessoas gordinhas e não de pessoas normais? Realmente chamou-me a atenção e fui pesquisando e informei-me que no Brasil já existe este concurso que é o “Garota Ginásio” mas não levei tão a sério, até o momento em que houve um incidente em Benguela de uma rapariga conhecida que injectava na perna, para mantê-la enorme e aquilo fez-lhe mal e consequentemente a perna apodreceu e ela teve de cortar, amputar a perna. e Daí despertou-me mais interesse em levar a ideia do concurso a cabo. Fui pesquisando mais sobre a parte benéfica dos tais produtos, que muitos angolanos ainda ingerem, na expectativa de serem os tais “caenxes” e as tais ” boazudas” enquanto temos o modo bom e se calhar sem custos que é o treino natural, e fui criando essa idéia juntamente com os meus sócios do ginásio que são o Elias e o Zeca Cornélio e foi um projecto aceite graças a Deus e começamos a partir de Dezembro. E quanto ao concurso de força, é um concurso que só houve em Angola uma vez, senão me engano em 1999 e é muito antigo para um país em que já existem ” caenxes” antes de existirem Mister´s, deveríamos dar um bocadinho mais de atenção a estas pessoas e também porque desperta, nós ao organizarmos um concurso de força automaticamente estamos a empregar cerca de cinquenta pessoas por um dia só.
Platina: Vê-se também que a Vina é uma empreendedora, e tem dado emprego a muita gente. Tem noção de quantas pessoas já passaram por si?
V.C: Muita gente, não só na minha empresa, mas, como noutras empresas, e tento em função das habilitações da pessoa e dos amigos que tenho, ajudar na medida do possível.
Platina: É uma mulher feliz? V.C : Sou, neste momento eu considero-me uma mulher feliz. Platina: O que é que gosta de assistir na T.V ?
V.C : Eu adoro rir, adoro comédia.
Platina: E o que é que não gosta de assistir?
V.C : Filmes de terror, e informações não correctas.
Platina: E nas horas livres?
V.C : Gosto de dançar, e danço muito bem. Sou viciada em dança, já fui bailarina. Platina: Filme inesquecível?
V. C : ” A choca” é um filme indiano que falava de duas pessoas de tribos diferentes, que não podiam dar certo, e no final aconteceu uma tragédia para tudo terminar, não que o amor tenha falado mais alto mas, que as vezes podemos evitar certas desgraças aceitando quem nós somos.
Platina: Qual é o livro que está a ler agora?
V.C : Eu terminei agora ” O Segredo”, é a terceira vez que o leio.
Platina: Prato predilecto?
V.C : Gosto de tudo que tiver gordurinhas.
Platina: E o pior presente que recebeu?
V.C : Foi num aniversário meu que descobri uma traição.
Platina: E o melhor presente?
V.C : A adopção dos meus filhos. Platina: Peça de roupa? V.C: Calção e top. Platina: Cor preferida?
V.C: Azul.
Platina: Cantor preferido? V.C : Cá em Angola gosto de tudo um pouco. Platina:
E internacional?
V.C: Drake, 2 Pac, Nikki Minaj, e a inesquecível Whitney Houston.
Platina: Melhor actor e actriz? V.C: Denzel Washington, e Angelina Jolie.
Platina: Arma de sedução?
V.C: O meu sorriso.
Platina: Viagem inesquecível?
V.C: Estados Unidos e Brasil.
Platina: O que é para si sinónimo de elegância?
V.C : É toda aquela pessoa que sabe estar em todas as ocasiões, e não se trata de vestir bem etc.
Platina: A melhor notícia que recebeu na sua vida? V.C: Foram tantas notícias boas, foi quando fui para o Kwanza-sul e a minha mãe tinha me feito uma visita. Foi a pior também porque de manhã avisaram-me que a minha mãe ia visitar-me e a tarde avisaram-me que ela falaceu num acidente.
Platina: Inveja para si o que é? V.C : É um sentimento muito mau, no qual eu faço questão de nunca ter em primeiro lugar. Platina: Ira? V.C: De vez em quando eu tenho mas é expontâneo.
Platina: Gula?
V.C : Sou 24h ligada a bolos.
Platina: Cobiça?
V.C: Não tenho.
Platina: Luxúria?
V.C: Também não.
Platina: Preguiça?
V.C: Nem pensar.
Platina: Mania? V.C: Mexer o pé.
Platina: Filosofia de vida. V.C: ” Faz o que achares que é bom, e não o que os outros decidirem que tu faças” e o ” Step by Step” do Dr. Eugénio.
Qual é o conselho que deixa as mulheres como a Vina batalhadoras e que não desistem dos seus objectivos
V.C : Nós temos que ser quem realmente somos, obstáculos hão sempre de existir, e nunca devemos viver a custa de ninguém. Mulher que é mulher faz por si só.
Platina: Por último, nota que as mulheres angolanas estão muito ligadas a materialismos e a ficar com homens mais velhos.
V.C: Eu conheço muitas pessoas mais velhas e as vezes acompanho certas situações de perto. Eu acho que tudo na vida acontece por uma questão de oportunidade, mas cabe a nós pormos as pessoas no seu devido lugar. E a minha mãe sempre me ensinou uma coisa : ” A filha que ficar com um homem casado, não é minha filha”. A pessoa tem que ter maturidade para evitar certos tipos de assédio. Eu acho que é uma questão de procurar ou de esperar.
Platina: Vina foi um grande prazer conversar consigo, é um grande exemplo de mulher. Parabéns!
Escrito por: Ottoniela Bezerra