Por: Sued de Oliveira
A jurista Ana Paula Godinho mostrou-se repugnada e triste com a aprovação da lei que condena o aborto em casos de violação ou risco de vida da mãe, o que alega ser um gigantesco retrocesso.
A lei, que foi unanimemente aprovada hoje pela assembleia nacional, prevê penas de quatro a dez anos de prisão e tal facto deixou desiludida a doutora Ana Paula Godinho, que fez transparecer a sua discórdia com uma declaração relutante: “Agora vamos retroceder?! Pensem bem antes que as mulheres tenham que sair à rua, tal como aconteceu lá atrás, queimar os sutiãs. Desta vez, terão que colocar cintos de castidade. Se uma mulher for violada e ficar grávida, é obrigada a ter o filho ou se interromper a gravidez, arrisca-se a, no mínimo, ser condenada a cinco anos de prisão. Afinal é violada duas vezes: primeiro pelo violador e depois pela lei. Mulheres, deputadas, estamos a deitar por terra muitas conquistas. Retrocedemos 200 anos”, expressou.
Ana Paula Godinho acredita que cada angolano, no pleno exercício da sua cidadania, pode decidir se, de facto, deve ou não permitir o aborto e refere que como mulher, sente-se humilhada. “Antes de fazer qualquer comentário, faço um apelo a todas as deputadas da situação e da oposição. Olhem com olhos de ver para o que foi aprovado. Lembrem-se de que o Código Penal de 1886 era mais favorável à mulher, sobretudo nos casos de violação e de má formação do feto, (aborto eugénico). Senti-me humilhada como mulher. Voltarei ao assunto depois que me passar a estupefacção. Boa semana a todas! Beijinhos”, concluiu.