Por: Iraneth da Cruz
Desde criança fazia teatro em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Em 2001, aos 17 anos, saiu de sua cidade para São Paulo para fazer faculdade de Artes Cénicas na Faculdade Paulista de Artes (FPA). Lá, estudou também na Escola Livre de Santo André e integrou o Teatro da Vertigem por um ano, liderado pelo director Antônio Araújo.
Estreou na TV, em 2006, no papel de Márcia Kubitschek, na minissérie JK da Rede Globo, depois que um produtor de elenco se interessou por seu trabalho na peça Crime e Castigo, uma adaptação da obra de Fyodor Dostoyevsky. A actriz já participou em várias novelas, séries e filmes. Actualmente está no elenco da novela Tempo de Amar como a Vilã Lucinda.
Platina Line: Pode nos falar um pouco sobre a sua personagem, a Lucinda, de “Tempo de Amar”?
Andreia Horta: A Lucinda é uma jovem que é abandonada pelo namorado, Maurício, por quem era apaixonada. Ela resolve fazer poções mágicas para que Maurício volte para ela no laboratório do seu pai, que é um médico. Nesse momento, a sua mãe entra no laboratório e tenta impedi-la. Sem querer, uma substância cai no chão, acontece uma explosão e a sua mãe começa a pegar fogo. Lucinda tenta salvá-la, mas ela queima parte do seu rosto e foge, enquanto que a mãe acaba por morrer. Lucinda fica com uma cicatriz e depois do episódio da explosão, entra numa fase de reclusão e acaba por ficar em casa, durante anos. Ela tem muita vergonha da cicatriz, mas ainda tem a obsessão de que um dia o Maurício volte para ela. Até que ela conhece o Inácio (Bruno Cabrerizo), que é o “mocinho” da novela, e apaixona-se por ele. Ela vê-o caído na estrada, leva-o para a sua casa e começa a cuidar dele. Ele ficara cego devido ao trauma da pancada e Lucinda fica feliz porque assim não verá a sua cicatriz. Contudo, ela começa a tomar atitudes, digamos que complexas, para que ele não volte a ver e, assim, fique dependente dela para sempre. A Lucinda realmente ama o Inácio e fará de tudo para que ninguém impeça esse amor, mas fá-lo de uma forma obsessiva e controladora. Agora que o Inácio já consegue ver novamente, penso que será uma questão de tempo até ele ver quem a Lucinda é realmente.
Platina Line: Acha que a Lucinda toma essas atitudes devido a todo o seu histórico, como a morte da mãe e o abandono do noivo, ou essa já é uma característica dela?
Andreia Horta: Eu acho que já é uma característica da personagem, porque o que a leva ao laboratório do pai acontece antes da morte da sua mãe. Ela tem uma carência e uma obsessão. Todo mundo diz: A “Lucinda realmente ama o Inácio e as coisas que ela faz são por amor”, mas acho que não. Ela ama o Inácio, mas as suas acções são más. São duas coisas diferentes.
PL: O Alcides Nogueira, autor da trama, disse que ao escrever o papel da Lucinda, tem momentos de profunda ternura e outros em que sente raiva da personagem. Acha que essa também será a reacção do público?
AH: Tomara! Eu sinto muita ternura por ela e estou apaixonada pela personagem, pelo modo como ela se apaixona pelo Inácio, como ela olha para ele. Tem uma cena maravilhosa em que ela pega um garfo e fala: “Vem Inácio” e ele diz: “Lucinda, pode deixar, eu posso comer sozinho” (Risos). Ela realmente ama o Inácio, quer protegê-lo e não quer que ninguém atrapalhe. Ela articula maldades quando fica insegura e isso causa-me ternura e quase dó, mas é maldade.
PL: O pai dela é um médico muito respeitado na trama. Como é a relação deles?
AH: Eles têm uma relação óptima e se dão super bem. O pai não sabe da metade das coisas que ela faz. Acho que, na verdade, ele não sabe de 96% das coisas que ela faz.
PL: A Lucinda vai fazer de tudo para atrapalhar o relacionamento do Inácio e da Maria Vitória (Vitória Strada). Você acha que o público vai ficar contra ou a seu favor?
AH: Não sei! Eu acho que as pessoas têm visão utópica do amor bom e que isso realmente é a grande felicidade da vida. Acho que é difícil combater essa crença, ainda mais pelo facto de o Inácio e a Maria Vitória se amarem e já terem uma história que vem desde Portugal. Isso é muito forte. Ao mesmo tempo, durante todo o tempo em que o Inácio esteve na casa da Lucinda, quando ainda estava sem enxergar, ele sabe que a Lucinda está apaixonada por ele e que ela parou a sua vida para cuidar dele, mas mesmo assim, ele só falava da Maria Vitória. Então talvez o público venha a ter um pouco de pena dela, mas não tenho muito a ilusão de que irão torcer pela Lucinda.
PL: Você é de Juiz de Fora. Pode falar um pouco de suas lembranças de lá?
AH: As melhores lembranças da minha cidade natal, que é Juiz de Fora, em Minas Gerais, é de quando éramos crianças e, depois da escola, tínhamos o resto do nosso tempo livre. A gente não tinha nada mesmo para fazer e por isso tínhamos um mundo inteiro para inventar. Hoje, adulta e trabalhando como actriz, devo muito a essa fase quando eu podia imaginar e ter tempo de brincar.
PL: Sendo a caracterização uma parte muito importante da personagem, como foi esse trabalho?
AH: O processo de caracterização da Lucinda e da cicatriz partiu de uma pesquisa desenvolvida pela equipa até chegar à técnica ideal. Foi então quando me chamaram para que eles testassem a cicatriz no meu rosto. Ela é muito simples de se aplicar e é seguida da maquilhagem. Só é mais complicada de se tirar, pois é um processo mais demorado. Mas realmente é fundamental para a composição da personagem e é bem real.