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    Impeachment ou um novo atalho para chegar ao poder?

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    Por Adebayo Vunge

    Há alguns dias que o tema não sai da agenda pública. E importa perceber que vai sendo feita uma gestão do mesmo ao ponto de criar uma espécie de irritante no seio da classe política no poder. Só por isso se explica que após vários anúncios e manobras, o tão falado pedido de impeachment contra o Presidente João Lourenço proposto pelos deputados da UNITA surge como manchete em alguns jornais, e prolifera nas redes sociais, mas ainda não chegou formalmente a “Casa das Leis”.

    Eu deixo sobre essa matéria, desafiado por alguns leitores, um ponto de vista baseado na percepção e nos elementos informativos que são públicos e escrutináveis. Mais uma vez, a Unita perde-se do essencial para abraçar o periférico tentando criar factos políticos e alimentar o desgaste da imagem pública do Presidente da República ou, no final do dia, tentando alimentar e insuflar a onda de descontentamento popular. É a sua deriva populista, não espanta.

    Causa muita estranheza, desde logo, as manobras de bastidor ocorridas no seio da liderança do plataforma político-eleitoral sendo um dos elementos mais notáveis o dito pelo não dito de Abel Chivukuvuku. Mais estranheza ainda causa o facto do documento não ser assinado por todos os seus deputados, independentemente das razões ponderáveis a que invocam publicamente para justificar a falta de comparência de quatro dos seus deputados. E causa mais estranheza porque o mesmo pedido de voto secreto, de resto fundamentado pela constituição, não é ele próprio utilizado pela UNITA no seio da sua bancada para assim aferir se todos eles estão efectivamente tão alinhados.

    Temos visto e ouvido algumas abordagens sobre este assunto apontando para a existência de algum descontentamento no seio da bancada parlamentar do MPLA. Essa abordagem não é publicamente testada. De resto, um comentário ou outro mais critico não confirma desalinhamento em relação à ideologia, directrizes e à liderança do partido. Entretanto, este axioma é válido num sentido como noutro.

    Destarte, esperemos todos que a UNITA tenha a mesma serenidade caso ocorram, no voto secreto, expediente que não utilizou para aferir o quanto todos os seus deputados concordam, no seu amago, com a iniciativa, e então virmos que alguns dos seus deputados venham a mostrar-se contra a iniciativa. Haverá responsabilização política? É que a lógica de “descontentes” não há apenas de um lado. É ou devia ser vista como normal, no seio das organizações, tratadas em sede própria, sem que isso chamusque o essencial dos princípios, do meu ponto de vista, invioláveis. Um deles é o de que em democracia prevalece o primado da maioria. Goste-se ou não temos de aceitar e respeitar os resultados da votação, seja qual  for e não procurar atalhos para depois subverter aqueles resultados. É claramente o que está a acontecer aqui.

     Mais uma vez, é possível constatar a ausência de soluções com propostas concretas por parte do partido para as questões do quotidiano, agarrando-se meramente à agenda do poder, do chafurdar a imagem das instituições, algumas delas onde o próprio partido faz parte, pelo menos para o que lhe interessa. Por isso, a proposta de impeachment não roca, é puro oportunismo.

    A história nos mostra que, para construir uma nação forte e coesa, não basta apenas criticar e maldizer, como é seu apanágio, a partir da sua zona de conforto. É preciso apresentar alternativas claras, ser propositivo e buscar consensos. Mas a postura adoptada pela UNITA, ao que parece, tende a repetir erros do passado. Esse atalho para chegada ao poder é só mais uma mostra do quanto os resultados não importam, nunca importaram. Só hão de importar quando a UNITA for poder e os demais não poderão reclamar de ausência de lisura e transparência do processo. Outra equivocada e histórica arrogância.

    Na outra face da mesma moeda (Angola), também não tenhamos dúvidas: precisamos de adoptar uma postura governativa mais dialogante, que não diabolize o ser-se da oposição e o pensar de forma contrária. Quem é Governo tem o dever da ética republicana de escutar as vozes das várias sensibilidades nacionais. Que não tenha receio de estar com o Povo ali onde ele estiver, coparticipando nas soluções dos problemas do seu quotidiano. Mais do que isso, que possamos em definitivo deixar de olhar a imprensa e os jornalistas como adversários, pelo contrário, possamos perceber que estes são intermediários do espaço público, não precisando de ser pró ou contra quem quer que seja. Precisam essencialmente de sejam isentos, objectivos e directos.

    Manipulando jovens e levantando camufladamente a bandeira do caos, o partido líder da oposição demonstra falta de responsabilidade com o presente e, principalmente, com o futuro de Angola, uma vez que num cenário em que essa força venha a ser poder não estaria ilesa desses artifícios do seu modus operandi.

    Lembremos de uma Angola onde a paz era frágil e a certeza de um futuro melhor parecia distante. O caminho para um país mais justo e desenvolvido não é trilhado com tácticas que visam apenas desestabilizar. É trilhado com diálogo, com propostas e, acima de tudo, amor pelo povo angolano, o que não se confunde com a ambição pura e dura de ser ou chegar ao poder. Nesse capítulo, a advertência de Dom Manuel Imbamba pareceu muito clara, ao notar que se pensa mais nos partidos do que no país.

    Morder a isca lançada pela UNITA seria um retrocesso para Angola, levando-nos de volta a um passado de incertezas, instabilidade e, pior do que isso, de conflitos. Agora, mais do que nunca, é o momento de olhar adiante, de priorizar a construção colectiva e de não se deixar levar por propostas vazias e divisivas.

    E digo isso, porque não são, por exemplo, conhecidas as iniciativas do chamado governo sombra da UNITA. O nosso quotidiano é apoquentado por uma série de situações e não os vemos falar, propagar as suas propostas, passando muitas vezes a ideia de que abandonaram o povo para se dedicar as mordomias da sua condição. E se há redes sociais para as manifestações, também deveria haver para as suas propostas. Mas não, é mais fácil usar as redes sociais para o populismo.

    Angola merece mais. Merece um debate político sério, elevado e comprometido com o seu progresso social e económico. A esperança é que a sociedade, atenta e consciente, não permita que a certeza do passado retorne e nos arraste para as sombras de tempos que desejamos deixar para trás e completamente enterrados.

    Num país com a maioria da população jovem, grande parte nascida depois do conflito, o História não pode ser sonegada para que não nos arrependamos, mutatis mutandi, como acontece hoje com os líbios. Precisamos juntos de tornar Angola um país viável. Aos nossos stresses do momento não podemos “ajuntar” também alguma instabilidade política.

    Na encruzilhada em que nos encontramos, todos contamos para que o futuro seja melhor. Percebendo o que dizia o Presidente Lula da Silva, não podemos nos ater aos recursos. A aposta deve ser o capital humano e a tecnologia, essas sim, são as condicionantes do nosso desenvolvimento. É isso que eu espero ouvir mais da UNITA e de outras forças políticas, propostas, subsídios às soluções, que modelos seguir. O que fazer ou como fazer diferente?

    Impeachment ou um novo atalho para chegar ao poder?

    Adebayo Vunge

    Há alguns dias que o tema não sai da agenda pública. E importa perceber que vai sendo feita uma gestão do mesmo ao ponto de criar uma espécie de irritante no seio da classe política no poder. Só por isso se explica que após vários anúncios e manobras, o tão falado pedido de impeachment contra o Presidente João Lourenço proposto pelos deputados da UNITA surge como manchete em alguns jornais, e prolifera nas redes sociais, mas ainda não chegou formalmente a “Casa das Leis”.

    Eu deixo sobre essa matéria, desafiado por alguns leitores, um ponto de vista baseado na percepção e nos elementos informativos que são públicos e escrutináveis. Mais uma vez, a Unita perde-se do essencial para abraçar o periférico tentando criar factos políticos e alimentar o desgaste da imagem pública do Presidente da República ou, no final do dia, tentando alimentar e insuflar a onda de descontentamento popular. É a sua deriva populista, não espanta.

    Causa muita estranheza, desde logo, as manobras de bastidor ocorridas no seio da liderança do plataforma político-eleitoral sendo um dos elementos mais notáveis o dito pelo não dito de Abel Chivukuvuku. Mais estranheza ainda causa o facto do documento não ser assinado por todos os seus deputados, independentemente das razões ponderáveis a que invocam publicamente para justificar a falta de comparência de quatro dos seus deputados. E causa mais estranheza porque o mesmo pedido de voto secreto, de resto fundamentado pela constituição, não é ele próprio utilizado pela UNITA no seio da sua bancada para assim aferir se todos eles estão efectivamente tão alinhados.

    Temos visto e ouvido algumas abordagens sobre este assunto apontando para a existência de algum descontentamento no seio da bancada parlamentar do MPLA. Essa abordagem não é publicamente testada. De resto, um comentário ou outro mais critico não confirma desalinhamento em relação à ideologia, directrizes e à liderança do partido. Entretanto, este axioma é válido num sentido como noutro.

    Destarte, esperemos todos que a UNITA tenha a mesma serenidade caso ocorram, no voto secreto, expediente que não utilizou para aferir o quanto todos os seus deputados concordam, no seu amago, com a iniciativa, e então virmos que alguns dos seus deputados venham a mostrar-se contra a iniciativa. Haverá responsabilização política? É que a lógica de “descontentes” não há apenas de um lado. É ou devia ser vista como normal, no seio das organizações, tratadas em sede própria, sem que isso chamusque o essencial dos princípios, do meu ponto de vista, invioláveis. Um deles é o de que em democracia prevalece o primado da maioria. Goste-se ou não temos de aceitar e respeitar os resultados da votação, seja qual  for e não procurar atalhos para depois subverter aqueles resultados. É claramente o que está a acontecer aqui.

     Mais uma vez, é possível constatar a ausência de soluções com propostas concretas por parte do partido para as questões do quotidiano, agarrando-se meramente à agenda do poder, do chafurdar a imagem das instituições, algumas delas onde o próprio partido faz parte, pelo menos para o que lhe interessa. Por isso, a proposta de impeachment não roca, é puro oportunismo.

    A história nos mostra que, para construir uma nação forte e coesa, não basta apenas criticar e maldizer, como é seu apanágio, a partir da sua zona de conforto. É preciso apresentar alternativas claras, ser propositivo e buscar consensos. Mas a postura adoptada pela UNITA, ao que parece, tende a repetir erros do passado. Esse atalho para chegada ao poder é só mais uma mostra do quanto os resultados não importam, nunca importaram. Só hão de importar quando a UNITA for poder e os demais não poderão reclamar de ausência de lisura e transparência do processo. Outra equivocada e histórica arrogância.

    Na outra face da mesma moeda (Angola), também não tenhamos dúvidas: precisamos de adoptar uma postura governativa mais dialogante, que não diabolize o ser-se da oposição e o pensar de forma contrária. Quem é Governo tem o dever da ética republicana de escutar as vozes das várias sensibilidades nacionais. Que não tenha receio de estar com o Povo ali onde ele estiver, coparticipando nas soluções dos problemas do seu quotidiano. Mais do que isso, que possamos em definitivo deixar de olhar a imprensa e os jornalistas como adversários, pelo contrário, possamos perceber que estes são intermediários do espaço público, não precisando de ser pró ou contra quem quer que seja. Precisam essencialmente de sejam isentos, objectivos e directos.

    Manipulando jovens e levantando camufladamente a bandeira do caos, o partido líder da oposição demonstra falta de responsabilidade com o presente e, principalmente, com o futuro de Angola, uma vez que num cenário em que essa força venha a ser poder não estaria ilesa desses artifícios do seu modus operandi.

    Lembremos de uma Angola onde a paz era frágil e a certeza de um futuro melhor parecia distante. O caminho para um país mais justo e desenvolvido não é trilhado com tácticas que visam apenas desestabilizar. É trilhado com diálogo, com propostas e, acima de tudo, amor pelo povo angolano, o que não se confunde com a ambição pura e dura de ser ou chegar ao poder. Nesse capítulo, a advertência de Dom Manuel Imbamba pareceu muito clara, ao notar que se pensa mais nos partidos do que no país.

    Morder a isca lançada pela UNITA seria um retrocesso para Angola, levando-nos de volta a um passado de incertezas, instabilidade e, pior do que isso, de conflitos. Agora, mais do que nunca, é o momento de olhar adiante, de priorizar a construção colectiva e de não se deixar levar por propostas vazias e divisivas.

    E digo isso, porque não são, por exemplo, conhecidas as iniciativas do chamado governo sombra da UNITA. O nosso quotidiano é apoquentado por uma série de situações e não os vemos falar, propagar as suas propostas, passando muitas vezes a ideia de que abandonaram o povo para se dedicar as mordomias da sua condição. E se há redes sociais para as manifestações, também deveria haver para as suas propostas. Mas não, é mais fácil usar as redes sociais para o populismo.

    Angola merece mais. Merece um debate político sério, elevado e comprometido com o seu progresso social e económico. A esperança é que a sociedade, atenta e consciente, não permita que a certeza do passado retorne e nos arraste para as sombras de tempos que desejamos deixar para trás e completamente enterrados.

    Num país com a maioria da população jovem, grande parte nascida depois do conflito, o História não pode ser sonegada para que não nos arrependamos, mutatis mutandi, como acontece hoje com os líbios. Precisamos juntos de tornar Angola um país viável. Aos nossos stresses do momento não podemos “ajuntar” também alguma instabilidade política.

    Na encruzilhada em que nos encontramos, todos contamos para que o futuro seja melhor. Percebendo o que dizia o Presidente Lula da Silva, não podemos nos ater aos recursos. A aposta deve ser o capital humano e a tecnologia, essas sim, são as condicionantes do nosso desenvolvimento. É isso que eu espero ouvir mais da UNITA e de outras forças políticas, propostas, subsídios às soluções, que modelos seguir. O que fazer ou como fazer diferente?

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