Em 8 de dezembro de 1980, o mundo perdia o gênio nascido há 70 anos, em Liverpool. Yoko Ono reflete sobre “dar energia” aos fãs de John hoje
O tempo foi generoso com Yoko Ono. Antes considerada uma força de ruptura no universo dos Beatles, ela agora é guardiã de confiança e supervisora do controle de qualidade do legado de seu falecido marido, John Lennon – tudo isso enquanto mantém a própria carreira na música, nas artes visuais e no ativismo pela paz.
Desde que completou Milk And Honey, em 1984, Yoko Ono tem cuidado da série de relançamentos e novos formatos que saem dos arquivos de Lennon – incluindo a caixa Lennon, de 1990, a compilaçãoAcoustic, de 2004, a edição limitada de singles em vinil, lançada em abril para marcar o Record Store Day, e a edição remasterizada de John Lennon: Behind The Music, do VH1, bem como projetos permanentes com o John Lennon Educational Tour Bus e o John Lennon Songwriting Contest.
Seu maior trabalho, porém, foi o lançamento da campanha de Gimme Some Truth, em outubro, para marcar o 70º aniversário de Lennon. Um esforço que envolveu diversos lançamentos pela EMI nos EUA e no mundo. A campanha traz oito álbuns solo de Lennon remasterizados e novos títulos, incluindo Power To The People: The Hits, disponível em duas versões diferentes; Gimme Some Truth, caixa de quatro CDs com músicas organizadas tematicamente e não por ordem cronológica; The John Lennon Signature Box, com oito discos solo remasterizados, três discos de gravações caseiras e os singles de Lennon; eDouble Fantasy Stripped Down, que atende a um velho desejo dos fãs, trazendo versões mais cruas do álbum de retorno que saiu três semanas antes de Lennon ser assassinado com um tiro, em 8 de dezembro de 1980, na frente do prédio onde morava em Nova York.
Yoko foi um elemento importante para unir todas essas coisas – ir aos estúdios da EMI em Abbey Road e remasterizar 121 das faixas solo de Lennon, ajudar o grupo nas compilações, escolher a arte do próprio Lennon para acompanhar os discos e até mesmo reatar um relacionamento que havia sido rompido com Jack Douglas, coprodutor de Double Fantasy, para trazê-lo ao projeto Stripped Down.
Foi um trabalho árduo, exigente e emocionalmente intenso, mas também, garante Yoko, uma empreitada que lhe deu novo insight sobre a obra de Lennon.
Como você vê seu papel no catálogo e no legado de Lennon? Como uma curadora?
Curadora não soa exato. Como uma protetora, talvez.
Quando assumiu tal papel? Foi imediatamente após sua morte?
Eu sempre fui protetora, acho, mas especialmente depois da morte de John. Antes disso, eu colocava toda minha energia na parceria que tínhamos e na proteção de John. Era John que precisava de proteção. Era ele que era famoso. Eu ficava nas sombras. Quando John partiu de repente, pensei: “O que farei? No que vou colocar essa energia?”. É claro que tenho meu filho [Sean], mas isso é outra história. Ainda existe um enorme espaço vazio ali. Então pensei: “Ok, posso dar a energia que dava a John aos fãs de John”. Foi aí que anunciei que todo ano iria dar alguma coisa a eles e creio que pensava numa coisa só por ano – mas acabou sendo mais de uma coisa, eu acho. Eu estava fazendo meu próprio trabalho também, mas creio que fiz muita coisa com o trabalho de John.
Você, de fato, tem sua própria carreira musical e nas artes visuais, dentre outras coisas. Como consegue equilibrar essas coisas com o catálogo de John, ou elas se complementam?
Não é que elas se complementem. Eu teria me sentido culpada se ignorasse o trabalho de John ou não fizesse tanto pelo trabalho dele e me concentrasse só no meu. Por isso, concentrei energia e esforços mais no trabalho de John e o meu foi algo como “se acontecer, aconteceu”. E aconteceu, na verdade, mas sem um plano.
Fonte: billboard