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A sexologia, como ciência multidisciplinar, existe há 100 anos. “Usufruirmos do prazer é um direito fundamental.” A frase é de Pedro Nobre, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, que também explica que os pioneiros da sexologia eram cientistas e também activistas dos direitos humanos. O facto é que, nos últimos anos, a comunidade científica tem passado a mensagem, quer a nível político quer social, de que a sexualidade é algo positivo e a saúde sexual é fundamental e determina o bem-estar geral das pessoas.
“O sexo tem sido cada vez mais aceite como um comportamento normal e importante na vida das pessoas. No início do século XX, seria impensável uma mulher revelar os seus desejos e lutar pelo seu prazer”, lembra a sexóloga Vânia Beliz. Os estudos são recentes, mas têm permitido perceber a importância do comportamento sexual nas nossas vidas. O que antes era escondido, hoje mostra-se: as fantasias e o poder da masturbação já não são áreas reservadas aos homens, como o mercado dos brinquedos eróticos e até da pornografia, que já pensa nas fantasias femininas.
“Castradas e entregues à satisfação do companheiro durante séculos, as mulheres têm vindo a descobrir o seu papel na relação sexual. Mas ainda há dificuldades que as limitam sexualmente”, adverte a sexóloga. E num país como Portugal, onde tudo “parece mal”, mais ainda. Liberte-se destes fantasmas, que são só pensamentos, tais como “as preocupações acerca da sua imagem corporal, a auto-estimulação, a comunicação com o parceiro”, defende Vânia Beliz. “Durante anos, fomos igualmente aconselhadas a esconder o nosso desejo e agora temos todo um caminho de descobertas para fazer.”

Opinião partilhada pelo psicólogo clínico Cláudio Moraes Sarmento. “Existem tabus e restrições sociais e educacionais que interferem com uma mais livre vivência da sexualidade.” E cada qual deverá perceber o que, para si, é fundamental. “Não existe uma norma ou padrão definido do que seja bom ou mau. Correcto ou errado. O que se tem de assegurar é que se trata de adultos em que ambas ou todas as partes dão o seu consentimento. São áreas privadas complexas. A diversidade que apresentamos enquanto seres diferentes tem reflexos na sexualidade (fantasias) e é independente do género masculino ou feminino”, explica o psicólogo.
Não deverá hoje haver drama em admitir, dizer e usufruir de bom sexo – mais ainda, de umasexualidade plena. E sem preconceitos, qualquer que seja a nossa orientação. Longe está o tempo em que o médico e sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, um dos pioneiros na defesa dos direitos homossexuais, viu a sua biblioteca queimada pelo regime nazi. “Sim, temos o direito de procurar a satisfação de acordo com a nossa definição pessoal. A ausência dessa procura faz-nos cair na frustração, podendo até causar insegurança e mal-estar na relação conjugal. Não devemos culpar nem culpabilizar, devemos saber o que realmente importa para a nossa satisfação sexual pessoal e procurá-la”, defende a sexóloga Vânia Beliz. O psicólogo clínico Cláudio Moraes Sarmento vinca o direito. “Claro que, sendo uma dimensão tão importante na nossa existência (sexo e sexualidade em sentido lato), é inegável que é um direito. Mas é um direito a que cada um se outorga e não inscrito na Constituição por decreto, como o direito à saúde e à educação.”
Não receie se sentir que algo não está bem. Corrija. Comece por fazer um exercício em casa, por si, antes de mais. “Se sabe realmente o que está menos bem, o primeiro passo é a entrega ao diálogo a dois. A falta de comunicação é uma praga e problemas muito simples podem, no silêncio, encontrar terreno fértil para se transformarem em verdadeiros monstros. Não devemos ter receio de falar com os nossos companheiros e de lhes dizer que queremos mais ou que nesta altura apenas nos apetece colo. Muitas vezes, se abrirmos a porta ao diálogo, apaziguamos as nossas dúvidas”, aconselha a sexóloga.
Se não identifica a causa da insatisfação, então recorra a ajuda. “O sentimento de infelicidade e/ou insatisfação com a vida sexual exige uma abordagem exploratória psicológica e/ou psiquiátrica e médica. Pode haver desde aspectos disfuncionais físicos a condicionantes psicológicos e afectivos, que são os mais frequentes que urge explorar e tentar resolver numa abordagem psicoterapêutica”, aconselha Moraes Sarmento.
O importante é sabermos que esta é uma viagem ao interior como qualquer outra e que só nós a podemos desbloquear, em sintonia com quem está ao nosso lado. “Se houver um desfasamento de interesses, pode acontecer que um esteja satisfeito mas que o outro esteja insatisfeito. Por isso, é importante conhecermos quem nos acompanha na viagem ao prazer. Uma vida sexual feliz pode tornar o casal mais próximo, mas é importante que as mulheres compreendam que uma vida sexual intensa não é sinónimo de um casamento para toda a vida”, adverte Vânia Beliz.

Importante é perceber que, se num momento estiver só, isso não impede nada. Vânia Beliz deixa um repto. “Cuide do seu corpo, mime-se. Se estiver bem, passará aos outros sinais de que está de bem consigo. É importante saber que, para ter um orgasmo, não precisa de ter alguém deitado ao seu lado. Se descobrir isso, vai ver que quando estiver num relacionamento, irá guiar muito melhor o seu companheiro na conquista do vosso prazer.”
ATREVA-SE!
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CONSELHOS DE UMA ESPECIALISTA
· Entenda que todas temos momentos em que sentimos mais prazer e outros, menos
· Não se concentre apenas nas confissões das amigas que descrevem ter 10 orgasmos numa noite
· Cada mulher é diferente: o nosso prazer pessoal em nada tem de ser igual ao da vizinha que geme toda a noite
· Liberte-se dos medos e dos sentimentos de culpa e faça o que realmente deseja
· Evite mentir. A mentira na cama não a leva a lado nenhum
· Os homens não têm bolas de cristal para perceberem que as mulheres ainda não chegaram lá
· Tenha a iniciativa de falar e de se auto-explorar de forma a conhecer cada vez mais e melhor o seu corpo
· Incentive a fantasia, lendo e vendo livros e filmes eróticos e românticos, por exemplo
· Acima de tudo, seja você mesma e não ceda a pedidos para os quais não se sinta confortável
Saiba que pode e deve procurar ajuda sempre que necessitar
UMA NOITE ESPECIAL
Aprenda a relaxar.
1. Procure uma posição confortável, sentada, deitada ou dentro de água
2. Feche os olhos e comece a respirar calmamente
3. Respire profundamente várias vezes e sinta o seu corpo a descontrair
4. Permita que tudo o que a limita ou bloqueia seja eliminado
5. Vista-se de alegria, encha a sua casa de flores e de velas
6. Receba e surpreenda quem deseja
1. Educação sexual correcta e fundamentada
2. Privacidade
3. Liberdade de escolha no casamento e no parceiro
4. Escolha relativamente à reprodução
5. Ser livre de coacção sexual
6. Expressão do prazer sexual









