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    Dog Murras : O homem que ousar um dia me proibir de cantar terá que me proibir de viver também

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    Dog Murras: “Um artista não é um produto de biscate”

    Por Amélia Santos JORNAL NOVA GAZETA

     

    Dog Murras vai lançar o seu sexto álbum em Novembro. Detentor de vários prémios nacionais e internacionais, tem dois ‘discos de ouro’ e um de ‘prata’. Polémico e frontal, Dog Murras não esconde a insatisfação com o estado actual da cultura e entende que a juventude anda a perder valores.

    Porque considera a cultura nacional mutilada?

    A cultura é essencial para a afirmação da soberania, interacção social, bem como para a promoção do desenvolvimento. A maior pobreza de um povo é a falta de identidade, auto-estima, união e solidariedade, que nos dias actuais, quando praticada por um povo mentalmente livre, se torna em economia sólida e bem-estar colectivo. Falta-nos tudo isto, então, sem sombra de dúvida, estamos mutilados.

    O que deve ser feito?

    A educação, a cultura e o desporto, por servirem de factores de inclusão social para a juventude, deveriam estar no topo das prioridades de investimento.

    O que devem fazer para que os artistas consigam viver da sua arte?

    O problema ainda está no próprio artista que não valoriza a sua obra, não conhece o seu capital e muito menos o seu ‘personal branding’. Não pode limitar-se e deixar que o tratem como um produto de biscate. O artista não deve ficar satisfeito unicamente com a venda de discos ou com espectáculos esporádicos. O artista tem uma imagem que pode gerar retornos financeiros, quando explorada. Os poucos artistas que já despertaram e começaram a valorizar-se como produto comercial têm tirado muito proveito na associação da sua imagem a marcas.

    Tem apreciado o trabalho dos kuduristas?

    Claro que sim, estou por dentro de tudo o que se faz na banda.

    Ainda se canta o kuduro como no seu tempo?

    A música, por ser dinâmica, é a manifestação artística em constante metamorfose. Os jovens que fazem kuduro não fogem à regra. Sofrem outras influências e vão naturalmente subir outros patamares. A minha maior preocupação baseia-se no facto de eles estarem hoje a imitar o ‘afro house, que é derivado do kwayto sul-africano, pondo de lado os nossos rituais, oralidade, danças, feitos, anseios, golos, sorrisos, lágrimas, história e, acima de tudo, identidade.

    O que está a falhar?

    A juventude angolana está em crise de perda de valores ou mergulhada no álcool, drogas e brigas, porque falta educação. A educação é a única forma de transformar, corrigir e direccionar uma sociedade. As políticas, planos e projectos educacionais devem delimitar este desiderato. Faltam referências culturais, desportivas, referências no entretenimento. Andamos aqui preocupados em nos perseguirmos, a apagar os bons feitos de outros angolanos, a denegrir os trabalhos uns dos outros e a nova geração é obrigada a ir buscar as referências fora de portas. O resultado é essa hecatombe total.

    Como vê a música angolana?

    Antigamente produzíamos menos. Antigamente ouvíamos mais música estrangeira nas rádios, hoje a nossa música ocupa 85 por cento do tempo de antena das emissoras radiofónicas ou televisivas e vejo o mesmo movimento manifestar-se nas pistas de dança. Antigamente contavam-se pelos dedos os músicos angolanos, os bons e os emergentes, hoje há muito mais opções. Há sensivelmente 10 anos, quando comecei a cobrar ‘cachets’ acima dos 10 mil dólares, parecia o fim do mundo, hoje vêem-se os artistas cobrarem dos 15 mil dólares para cima. Antigamente, tinha apenas dois a quatro espectáculos por mês, hoje vejo a agenda dos mais badalados artistas a bater acima dos 15 espectáculos mensais, dentro e fora das portas. O primeiro recorde de vendas de CD, directamente ao consumidor, é meu: cinco mil em 2002. Hoje já estamos a falar em vendas acima das 30 mil cópias. Antigamente, o próprio mwangolê tinha complexo de carregar as nossas músicas na mala, hoje encontra-se a nossa música em Portugal, Dubai, China, Brasil, até na Índia. Somos ícones culturais em Moçambique, São Tomé, Guiné e Cabo Verde. Fazemos shows em grandes salas de Portugal para plateias recheadas de europeus, africanos e sul-americanos. Sou um adepto da terapia motivacional e carrego energia 100 por cento positiva.

    O kuduro sempre foi duramente criticado principalmente pelas gerações mais velhas…

    O kuduro é o género musical que mais provoca polémicas. O estilo nasceu dos subúrbios e tornou-se o grito e a voz dos jovens que exprimem o ‘modus vivendi’. O kuduro é um movimento cultural que representa uma franja da nossa sociedade. Não deve ser marginalizado. Deve constituir preocupação porque, dada a sua abrangência, é uma arma poderosa, que, se bem usada, pode beneficiar o resgate dos valores éticos, morais e cívicos. Antes de criticar, precisamos de nos focar na educação de base, na formação dos jovens dos musseques.

    Porque é que as suas canções têm muita critica social?

    Sou assumidamente um músico de intervenção social e naturalmente um activista. Nasci e cresci no musseque e aprendi, desde muito cedo a valorizar a harmonia familiar, o amor ao próximo e a fazer o bem. Valores estes que trago comigo e os defenderei até à morte. Convivo com muita gente que sofre, então sempre expressei o sentimento destas pessoas na música. A intenção é sempre contribuir por uma Angola melhor para todos. Esta é a minha bandeira.

    Já teve problemas por causa do estilo?

    Ainda não, mas sei perfeitamente que determinadas músicas não agradam a uns e outros, por trazerem à tona o valor real do que se passa nos nossos becos onde as tvs e as rádios não visitam.

    Deixou de aparecer nos eventos culturais…

    Fiquei cansado da mesmicie e de lidar com gente que trabalha com cultura, mas que nada entende do assunto. Estes promotores paraquedistas que transformaram os nossos palcos em ringues. Existem até alguns poucos com uma visão que pode ser proveitosa, mas infelizmente não têm grandes poderes de decisão. Este processo está a andar de frente para trás e em vez de subir, desce.

    Foi proibido de cantar?

    Sou um cidadão emancipado. Mente livre e espírito livre. Sou um cidadão proveniente de uma nação livre, autónoma e democrática. O homem que ousar um dia me proibir de cantar terá que me proibir de viver também.

    Há muitos rumores de que estava envolvido com drogas. É verdade?

    Da mesma forma que criei muitos kambas, criei muitos inimigos. Esta é mais uma das muitas histórias que os meus detractores criaram para macular a minha imagem. Mas, sou um cidadão temente a Deus e não me envolvo em práticas escuras. A razão do meu sucesso está ligada directamente ao facto de ser homem, honrado, humilde e honesto. Tal como me exigia o meu mestre, o meu pai Augusto Júlio de Oliveira. Aprendi desde muito cedo a enxergar a floresta, onde outros vêem só a árvore.

    De mala na mão

    Tem sido, nos últimos tempos, um dos elos entre as culturas angolana e brasileira, devido à sua participação no carnaval da Bahia e a implementação do Projecto ‘Angolanidade’. Foi o único músico nacional a promover uma sessão de autógrafos e vendas no extinto mercado Roque Santeiro, na altura, o maior mercado informal da África.

    Actua e faz palestras no Brasil e na África do Sul e pondera aceitar um convite para ir até aos EUA. Além de músico, trabalha com comunidades carentes e foi convidado a colaborar na luta contra a pobreza na África Austral. Tem uma empresa, a ‘Dog Investimentos’, ligada à construção civil.

    Perfil

    Nome: Murthala Fançony Bravo de Oliveira

    Nascimento: 17 de Fevereiro

    Filhos: 2

    Estado Civil: Vive maritalmente.

    Prato preferido: Mufete, calulu de carne seca com funje.

    Artistas favoritos: Bonga, Teta Lando, Paulo Flores, Waldemar Bastos, Bangão, Carlos Burity, Irmãos Almeida, Socorro, Irmãos Cafala, Eduardo Paim, Ruca Van-Dúnem, Gabriel Tchyema, Jovens do Hungo, Nick (Avô kumbi), Walter Ananás, Matias Damásio, Yuri da Cunha.

    Formações: Curso médio em Ciências Sociais, Superior de Belas Artes, Práticas de Administração de Empresas, de Chefia e Liderança, de Inteligência Emocional e de Personal Branding.

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