Por: Stella Cortêz
Na ressaca do show “Proibido Ver Isso”, o cantor MCK, um dos mais notáveis rappers angolanos, falou, em entrevista ao jornal O País, sobre a diferença entre os álbuns “Proibido Ouvir Isso” e “Valores”, tendo este último previsão de ser lançado no mês de Julho, bem como a transição presidencial e o repatriamento de capitais.
“A grande diferença entre um álbum e o outro é que vai ser marcada fortemente pelo fim do consulado longevo de 37 anos de poder de José Eduardo dos Santos. Sem sombra de dúvida, foi o grande acontecimento que ocorreu. Entretanto, no espaço entre o “Proibido” e o “Valores”, foi o momento em que muito sofri como artista a nível de privação de liberdade. Fui chamado como declarante num caso em que absolutamente não tinha nada a ver; sofri interdição ilegal; fui proibido de viajar ao Brasil para a realização de um concerto por conta do caso 15+2; tive mais de quatro concertos proibidos num só ano, enfim, foram muitas coisas que marcaram negativamente naquilo que diz respeito à violação mais humilde dos direito,” disse Catró.
O músico destacou ainda que nem tudo foi negativo, pois este período marcou a maior expansão internacional da sua carreira, com a realização de diversos concertos em Moçambique (com o Azagaia), em Portugal (com Bonga, Paulo Flores e Valete). Não obstante a isso, também esteve no Brasil, Espanha e África do Sul para a realização de concertos.
Entre os vários assuntos abordados e questionado sobre o que espera da lei de repatriamento de Capitais, MCK respondeu: “Acho que é uma lei muito frouxa e que beneficia o infractor. É quase como encontrarmos alguém a roubar a nossa botija, até entendo que haja o perdão criminal ou o fiscal, mas devolver o dinheiro tirado do erário público para a esfera dos criminosos, não é certo. Para mim, não faz sentido dar o dinheiro a alguém que tenha tirado da saúde, onde morreram pessoas de febre amarela e paludismo,” acrescentou.
Sobre as expectativas que tem em relação ao presidente João Lourenço, MCK destacou que se considera que o ex-presidente, José Eduardo, ficou 38 anos no poder, faz sentido dar o benefício da dúvida a João Lourenço, pois ele pegou o país numa situação muito crítica, difícil e de incertezas económicas. E, no seu ponto de vista, o presidente não pode fazer milagres, mas apresenta sinais de vontade política muito fortes e, neste curto espaço de tempo, já fez muita coisa.