Numa noite em que os Nouvelle Vague baixaram as rotações da música do Rock Rendez Vous, foi Yuri da Cunha quem brilhou com um concerto exemplar. 17 mil pessoas estiveram no Delta do Alto da Ajuda.
Em ano de bodas de ouro, a Delta decidiu oferecer um cartaz mediaticamente ambicioso com um leque de ofertas que individualmente teriam pedigree para encher um Coliseu. A comprová-lo, a abertura do palco maior pelos GNR, acompanhados da orquestra da «autoridade» e a sucessão de êxitos à escala nacional do espaço musical secundário: Amor Electro, «Zeca Sempre» e os DJs Pete Tha Zouk e Pedro Cazanova.
O grande concerto da noite viria a ser o de Yuri da Cunha. O que falta ao kizomba são uns Buraka Som Sistema que credibilizem o género porque já é tempo de deixar o preconceito para trás. A máquina oleada do cantor angolano encontrou numa voz au point o diálogo perfeito para uma hora de festa com direito a homenagem a Angélico Vieira.
O angolano Yuri da Cunha regressou a Portugal um ano depois para novo concerto. Em Abril participou no FestiAngola, no Pavilhão Atlântico e regressou a 30 de Julho de 2010, para apresentar o seu novo disco, “Kuma Kwa Kié”, e este ano no Delta nada de diferente do que vimos há um ano.
E Yuri não defraudou as expectativas: abriu o concerto com Eji, enfeitiçou os presentes com “Makumba” até chegar a “PPP”, abrandando o ritmo, deixando o público respirar ao ritmo da kizomba. Dominando o palco como só ele sabe, Yuri da Cunha resolveu aquecer o ambiente ainda mais, chamando ao palco Big Nelo. Foi a loucura total, principalmente entre os mais novos, que pareciam dominar as letras do Big Nelo de trás para frente. E para mostrar a sua versatilidade em palco, Yuri deu um “cheirinho” de “Canta comigo essa keta” dos extintos SSP, para mostrar aos presentes o que esperar do concerto de Big Nelo (ex-SSP) no próximo dia 16 na Aula Magna em Lisboa.
Antes de cantar “Cheiro bem”, Yuri pediu aos presentes que abraçassem a pessoa que estivesse mais próxima, para lembrar o músico e actor Angélico Vieira, falecido esta semana. Solidário o músico pediu a todos que ajudassem, tal como ele, a fundação Gil.
Com uma presença em palco muito característica e sempre em interação com o público, Yuri exibiu um repertório enorme de estilos de música e dança, contagiando miúdos e graúdos, velhos e novos, mostrando porque é dos mais versáteis artistas da actualidade. Do semba ao Kuduro, da kizomba kintuene, Yuri da Cunha apresentou uma miscelânea de sons e danças, acompanhado por aquele remexer que só ele tem.
E para fechar a noite com chave de ouro, nada melhor que “Kuma kwa Kié”, fazendo com que os presentes quase não dessem pela passagem de tempo, uma hora depois de subir em palco. O músico despediu-se de todos com um “até breve”, ele que vai estar no concerto de Alexandre Pires, no dia 30 de Julho, em Lisboa.
No palco maior do Delta, a noite começou como acabou: atabalhoada. Por muitos ensaios que possam haver – e não é líquido que tal tenha acontecido – os GNR e a GNR não se dão bem. Não há sintonia entre a irreverência pop de Reininho, Tóli e Romão e o classicismo da Orquestra. Ainda não foi desta que a imagem de decadência do Grupo Novo Rock se esbateu.
No final, Sean Paul provou porque razão deixou de estar na órbita das atenções. É verdade que o som não ajudou mas o próprio também poucas vezes se revelou à altura da expectativa e o medley de êxitos ragga acabou envolvido numa amálgama em que a coesão fez falta.
No Palco Jogos Santa Casa, o cenário não foi muito mais animador com o colectivo «Zeca Sempre» a transformar o legado de José Afonso em música de feira, o Amor Electro a comprovar porque razão é uma das piores notícias que a música portuguesa já recebeu e Pete Tha Zouk e Pedro Cazanova a encerrarem a noite do festival dos países produtores de café com uma elevada produção…de azeite.
Platina Line/ com agencias internacionais
Fotos: Luis Martins