Exausta, o corpo encharcado, e não era de êxtase, Teresa (nome fictício), 35 anos, quebrou a rotina dos últimos dois anos e surpreendeu o companheiro ao responder: “Acho que estamos com um problema…” Nessa noite, a professora que socialmente tinha criado a imagem de uma mulher solta, aberta e segura, ao discutir abertamente temas picantes, assumiu que não estava satisfeita com a sua sexualidade, “que merecia e queria muito mais” e que precisava de dar o primeiro passo nesse sentido. A frustração tinha chegado ao limite.
“São precisos dois para dançar um tango. Eu tinha deixado que a situação se arrastasse ao disfarçar orgasmos e prazer e mais tarde o próprio desejo. A paixão faz-nos acreditar que tudo é possível, que acabamos por nos encaixar, mas penso que sempre soube que o Joaquim (nome fictício) não era o meu tipo de amante”, explica Teresa, dois anos depois destes acontecimentos terem tido lugar. Hoje está divorciada, não tem namorado, às vezes vai “para a cama com um amigo”. Mas, como costuma dizer, está “sobretudo num processo de autoconhecimento”.
Teses sobre a sexualidade asseguram que não é preciso vontade (de sexo) para no final ter prazer, atingir o êxtase. Quando ‘tocados no sítio certo’, mulher e homem conseguem juntos orquestrar a melhor das obras. Mas o desejo é como viajar, a possibilidade de antever e imaginar a chegada (é verdade que entre o sexo imaginado e o sexo real vai uma boa distância, e o real pode acabar em frustração), mas é uma emoção febril que, por si só, é capaz de nos dar prazer. No seu livro O Primeiro Sexo (Editorial Presença), a antropóloga norte-americana Helen Fisher descreve-o como “a emoção mais profunda e primitiva à face da Terra”.
Helen Fisher defende que o desejo sexual feminino é diferente do masculino, apesar de todos os dados mostrarem o contrário: “É mais subtil, mais complexo e muito menos compreendido.” O mesmo acontece com a resposta sexual. Segundo o psiquiatra e terapeuta sexual Francisco Allen Gomes, a resposta sexual feminina é mais complexa. Escreve no livro da sua autoria, Paixão, Amor e Sexo (Dom Quixote): “A erecção do pénis é um excelente marcador da excitação sexual e a ejaculação um sinal evidente do orgasmo.” Nas mulheres, segundo alguns autores, será a lubrificação vaginal, explica ainda o especialista, defendendo uma outra teoria: para elas é a sensação subjectiva que conta. “Para a mulher a excitação sexual resulta mais de processos cognitivos sobre a significação dos estímulos do que de um feed-back da vasocongestão periférica.” Francisco Allen Gomes explica que embora o orgasmo feminino tenha sempre a mesma expressão, “as contracções vaginais”, pode ser provocado por diferentes estímulos. Explica que enquanto os receptores erógenos mais fortes do homem estão reunidos no pénis, na mulher estão distribuídos. A maioria encontra-se no clítoris, os restantes nos pequenos lábios e na entrada da vagina (o intróito). A vagina em profundidade “é pouco enervada”, diz, e como resultado uma estimulação do clítoris pode excitar rapidamente a mulher, se ela estiver psicologicamente receptiva e se a carícia for constante levá-la-á também rapidamente ao orgasmo. “Nos casos em que estas carícias são só um preliminar, a penetração ainda que demorada pode não bastar para atingir o orgasmo”, conclui, sublinhando que de facto isso não basta em 70 por cento dos casos.
Será por esta razão que tantas mulheres dizem não atingir o orgasmo? Esse estado “de alteração do estado da consciência e controlo que dura breves segundos” – segundo Patrícia Pascoal, terapeuta sexual, membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica – e que tanta gente parece perseguir?
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A psicoterapeuta assegura que há mulheres “não orgásticas” que vivem a situação com muita angústia e que a maioria tende a ocultar este facto “porque sente que é uma desnarcisação”.
Também Paul Martin, autor do livro Sexo, Drogas e Chocolate – a Ciência do Prazer (Edições Bizâncio), lembra que o orgasmo é uma das formas de prazer mais intensas – apesar de breve, “é um prazer destilado” –, mas que o prazer sexual não se reduz à obtenção do mesmo.
Patrícia Pascoal afirma que o prazer sexual é um direito e uma parte importante da vida do ser humano, mas esclarece que “a ideia de que uma boa vida sexual é um campeonato em que ganha quem marcar mais pontos, e os golos são os orgasmos, é claramente reducionista e desfasada da vivência das pessoas”. Se assim fosse, sublinha, “bastaria a auto-estimulação, as pessoas não procurariam diferentes modelos de relação em que integram a sexualidade”.
E explica que é difícil dar receitas de como optimizar o envolvimento, ter ou proporcionar um orgasmo, mas esclarece que “o autoconhecimento corporal, ‘deixar-se ir’e não recear perder o controlo” podem ajudar. A “estimulação e familiarização com material que excita e mantém a excitação são também importantes”, uma vez que “a distracção com outros assuntos e a preocupação em seguir um padrão certo podem acabar por ‘matar’ o envolvimento e o abandono”, resume.
O ORGASMO SIMULTÂNEO· A impossibilidade do ‘orgasmo simultâneo’, em que o casal atingiria o tal estado alterado de consciência e de controlo, é ainda um motivo de angústia entre casais.
. Apesar de defender que é mais importante “viver a relação sem metas rígidas”, o terapeuta sexual Allen Gomes diz que há duas estratégias básicas para lá chegar: “Maior controlo da ejaculação masculina e maximizar a estimulação feminina antes e durante o coito, não esquecendo que o clítoris existe.”