Desde o fim da Guerra Civil em 2002, Angola tornou-se uma das ‘estrelas’ mundiais do crescimento económico, um sucesso assente nas avultadas receitas do petróleo e na subida do preço desta matéria-prima.
Mas este desempenho não foi suficiente para Luanda sair do ‘clube’ dos países mais atrasados em termos de condições de saúde e educação que oferece à população, nem para ultrapassar Estados como Paquistão e Bangladesh nos rankings de desenvolvimento humano.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que Angola podia ter oferecido condições de vida muito superiores aos seus habitantes, com o dinheiro que tem arrecadado do petróleo.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano, publicado na semana passada, Angola é o 148.º país mais desenvolvido do mundo, num universo de 187 Estados, conservando a posição que tinha em 2011. Entre 2007 e 2012, o país apenas conseguiu subir um lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Longo caminho
O IDH mede o nível de desenvolvimento de um país através de variáveis como o rendimento per capita e as condições de saúde e educação. A ONU considera que o desenvolvimento de um país não se mede apenas pela sua riqueza, mas sobretudo pela qualidade de vida das populações: se têm bons cuidados de saúde, acesso à escola ou igualdade de oportunidades, entre outros indicadores.
Para Angola, a economia que mais cresceu a nível mundial entre 2001 e 2010, com uma expansão anual do PIB de 11,1%, segundo o FMI, a permanência no clube dos mais pobres em matéria de desenvolvimento é desanimadora. As elevadas receitas geradas por petróleo, gás e diamantes continuam a não ter o impacto que deviam na melhoria das condições da população, diz o relatório.
No universo dos oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Angola ocupa a sexta posição em termos de IDH. No grupo dos 14 Estados que constituem a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC na sigla em inglês), Luanda fica-se também pelo sexto posto.
As Nações Unidas referem que África foi a região onde se registaram os maiores avanços em matéria de desenvolvimento desde 2000, com o contributo de países como Burundi, Congo, Etiópia, Moçambique, Nigéria, Ruanda e Angola.
O país conseguiu registar uma das maiores taxas de crescimento anual do IDH desde 2000, uma média de 2,56%, quatro vezes a média anual (0,68%) dos mais de 180 países acompanhados pela ONU neste período. Entre 2000 e 2012, Angola aumentou o nível de desenvolvimento humano de 0,375 para 0,508 pontos, ainda assim 20% abaixo da média mundial (0,680 pontos).
Mas a forte subida de Angola no IDH nos últimos anos esconde uma verdade menos feliz. Luanda está a subir nos níveis de desenvolvimento humano devido às receitas do petróleo e não tanto pela melhoria das condições de vida da população.
O índice de IDH da ONU é ponderado com quatro variáveis (rendimento bruto per capita, esperança de vida à nascença, média de anos de escolaridade e anos de escolaridade esperados). O elevado valor do rendimento per capita de Angola (4.800 dólares por habitante) face aos seus concorrentes mais directos no ranking – quase cinco vezes superior a Madagáscar ou mais do dobro de São Tomé e Príncipe – permite a Angola empolar o seu IDH final com uma única variável. Por exemplo, a esperança de vida à nascença em Angola (51,5 anos) é das mais baixas em todo o mundo e mesmo inferior ao Níger, o último classificado do IDH de 2012.
A discrepância entre a riqueza de um país e a qualidade de vida das populações está expressa num outro indicador: o IDHde não rendimento. Este índice analisa os progresso feitos em matéria de desenvolvimento (saúde, educação, igualdade de oportunidades) extraindo o factor rendimento. Se Angola ocupa o 148.º lugar no ranking geral de IDH, na classificação de IDH não rendimento o país afunda para o 161.º.
Apesar de ter sido a região que mais subiu em termos de desenvolvimento humano na última década, a África Subsaariana tem um longo caminho a percorrer: continua a ter o valor nacional médio mais baixo de IDH.
Para aumentar os níveis de qualidade de vida das suas populações, a região deve aprofundar relações com os países do Sul, nomeadamente na América do Sul e Ásia. Brasil, China e Índia são os parceiros-chave para África no futuro. Segundo dados das NaçõesUnidas, o comércio entre a China e os países subsaarianos disparou de mil para 140 mil milhões de dólares entre 1992 e 2011.
A ONU adianta que África tem potencial para criar 72 milhões de postos de trabalho até 2020, mas deve continuar a aposta na formação, na educação e em melhorar o acesso à saúde. Nos próximos 40 anos, o índice de desenvolvimento de África poderá aumentar 52% (de 0,4 pontos para 0,6).
Portugal sofre a maior queda
Portugal foi o país que sofreu a maior queda no ranking de desenvolvimento humano da ONU em 2012, perdendo três lugares face a 2011 e sendo ultrapassado por Lituânia e Emirados Árabes Unidos.
Lisboa ocupa o 43.º lugar na classificação mundial do desenvolvimento, à frente da Letónia e da Argentina. Aforte queda em 2012 (a maior em mais de 180 países) é o resultado das medidas de austeridade que afectaram os portugueses no âmbito do resgate da troika.
O aumento de impostos e a retirada dos subsídios de Natal e Férias aos funcionários públicos emagreceram os orçamentos da famílias em 2012, ao mesmo tempo que os cortes na educação e na saúde reduziram o acesso a estes dois sectores.
No outro extremo, encontram-se Noruega e Geórgia. O primeiro país manteve-se como o mais desenvolvido, lugar que ocupa desde 2007, sempre acompanhado pela Austrália no segundo posto. A Geórgia foi a estrela do ranking, escalando três lugares, a maior subida mundial.
Fonte: Semanário Sol