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    Ciomara Morais lamenta falta de incentivo à ficção angolana

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    Por: Hélio Cristóvão

    “Solicitei apoio em cinco províncias, descobri que é preciso ter influência, o Ministério da Cultura não funciona”

    A actriz, realizadora e empreendedora luso-angolana, que desde cedo tem elevado o nome da nossa bandeira no mercado dramatúrgico português, pelas passagens em diversos projectos de ficção como: Morangos com Açúcar, Voo Directo, Equador, Liberdade, Água de Mar, A única Mulher, Querida preciosa e tantos outros projectos de ficção, falou em entrevista ao PLATINALINE a propósito da sua experiência na televisão portuguesa, bem como o grande desejo de trabalhar, pela primeira vez, em projectos 100% nacionais e em solo angolano.

    Apesar de já trabalhar em projectos como: Makamba Hotel, Maison Afrochic, Voo Directo e agora no Bar do Gilmário, todos estes transmitidos em Angola, a jovem multifacetada, de 37 anos de idade, conta que apesar de ser muito dispendioso, tem o grande desejo de trabalhar em Angola.

    Acompanhe a entrevista na íntegra:

    PLATINALINE – Onde nasceu? Há quanto tempo reside em Portugal?

    CIOMARA MORAIS – Nasci em Benguela, mas com poucos meses mudei-me para Lubango, terra do meu pai. Quando me perguntam, digo sempre que sou lubanguense e mumuila. Todas as minhas memórias e referências foram passadas entre Lubango, Quipungo e Cancovo. Vim para Portugal aos 9 anos.

    PLATINALINE – Sendo luso-angolana, como tem sido para si trabalhar em Portugal?

    CIOMARA – Quando estou em Portugal ou Angola, estou na minha terra. As minhas avós são negras angolanas e os meus avôs são brancos portugueses, eu sou negra, mas cresci com as duas culturas e identifico-me com ambas. No final do dia, identifico-me mais com a cultura angolana. Somos mais alegres, menos dramáticos e na nossa mesa há sempre lugar para mais um, mesmo que seja apenas para chá com pão.

    PLATINALINE – Participou em projectos nacionais como: “Makamba Hotel”, “Maison Afrochic” e agora “O Bar do Gilmário”, todos com a particularidade de serem gravados em Portugal. Gostaria de trabalhar em Angola?

    CIOMARA – Infelizmente, nunca trabalhei na minha terra. Ainda é muito dispendioso gravar em Angola. Mas respondendo a pergunta inicial, adorava gravar na minha terra. Estive de 2011 até 2015 a tentar arranjar apoios para gravar em Angola e nem apoio institucional consegui. Bati a porta de cinco províncias e descobri que é preciso ter um bom Q.I. (quem indica) ou um papoite. O ministério da cultura não funciona.

    PLATINALINE – Com que frequência visita o país?

    CIOMARA MORAIS – Até 2016, ia sempre, depois fui mãe e ainda não voltei. Estou à espera que a pandemia acabe, para levar o meu filho. Ele tem de ir à nossa Embala receber a bênção do nosso Soba e comer maboque acabado de partir no chão.

    PLATINALINE – Por que razão ainda não participou em projectos nacionais gravados em Angola?

    CIOMARA – Fazer projectos em Angola é muito dispendioso e a ajuda do ministério da cultura é quase inexistente. Muitos projectos foram feitos com a boa vontade de todos ou apoios internacionais. E aos que foram feitos com boa vontade não entrei porque vivo em Portugal e não consegui conciliar agendas. O filme “A Ilha dos Cães”, do realizador Jorge António, foi filmado em São Tomé e Príncipe e também em Portugal, a fazer de conta que era Angola. O que deixa um país na história e no mundo é a cultura, mas infelizmente ainda se investe mais em carros, relógios e na terra dos outros.

    PLATINALINE – De todos os trabalhos de ficção que já fez, qual deles foi o mais marcante e por quê?

    CIOMARA – A série portuguesa “Equador”. Foi o primeiro trabalho em que me senti actriz, tive um director de actores negro, o actor brasileiro Thiago Justino, tive um marido negro (Welket Bungué) e conheci dezenas de actores negros de quem sou amiga e que me têm ajudado com os projectos da minha produtora “Elavoko Entertainment”.

    PLATINALINE – Como foi gravar o Bar do Gilmário?

    CIOMARA – Foi maravilhoso. O Gilmário, para além de ser um excelente profissional, é um ser humano que todos deviam conhecer ou ver pelo menos uma vez na vida. E o projecto está muito bem conseguido. A Érica Chissapa, o Anilson Eugénio e o Sabri Lucas são colegas talentosos e maravilhosos.

    PLATINALINE – Dentro da sua área de actuação, o que espera de Angola?

    CIOMARA – Espero ter um ministério da cultura que possa responder às necessidades de todos os artistas. Eu sei que não há dinheiro, mas o apoio institucional já dá para nos mexermos e irmos à procura de financiamento. Não existe povo mais criativo do que o nosso, mas há passos que não conseguimos dar sozinhos. Quando não consegues marcar uma simples reunião, tudo fica muito mais difícil, e com isso estamos constantemente a consumir produtos na língua, cultura e identidade dos outros. E isso não devia ser assim, porque, culturalmente, somos muito ricos.

    PLATINALINE – Qual a sua grande aspiração?

    CIOMARA – Profissionalmente, que a minha produtora cresça e consigamos arrancar com todos os projectos que temos e ganhar um Óscar de melhor filme estrangeiro. Pessoalmente, que continue a ter saúde e que o meu filho seja feliz.

    PLATINALINE – Que olhar tem sobre a ficção de Angola?

    CIOMARA – A nossa ficção precisa de incentivos. Neste momento, existem angolanos capacitados em todas as áreas do audiovisual. É possível fazer projectos do princípio ao fim sem a necessidade de recorrer à mão-de-obra estrangeira. E com isso, a cultura cresce e a nossa identidade não é adulterada.

    PLATINALINE – Que projectos tem de momento?

    CIOMARA – Neste momento, estou a finalizar a minha curta-metragem intitulada “Já te disse que te amo?”. O projecto é protagonizado pelo actor Ângelo Torres e conta comigo, com o Mauro Hermínio e a Maura Faial no elenco. E também arranquei com a pré-produção do meu primeiro argumento para longa-metragem, “Um Novo Amor”, uma comédia dramática que conta a história de três melhores amigas de infância que se encontram a viver dramas pessoais muito distintos.

    Para concluir, Ciomara conta que a produtora a cargo desses projectos é a sua e denomina-se “Elavoko Entertainment”. Elavoko significa Esperança, em Umbundo. “Sou sulana e mumuila.”

    “Este é o site da minha produtora e estou à procura de técnicos e artistas para fazerem parte da nossa equipa, em Portugal e nos restantes países dos PALOP.” Rematou.

    https://www.elavoko.pt/

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