Ninguém esperava que os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Joe Biden, trocassem gentilezas no primeiro debate das eleições de 3 de novembro. Mas o que aconteceu ontem à noite em Cleveland, Ohio, foi pior do que qualquer comentador tinha previsto.
A primeira hora do debate, moderado pelo apresentador da Fox News Chris Wallace, foi marcada por insultos e interrupções constantes, com Donald Trump a falar constantemente por cima de Joe Biden.
“É quase impossível responder seja o que for com este palhaço”, disse Joe Biden, numa das ocasiões em que se mostrou mais exasperado. Antes disso, já o candidato democrata tinha revirado os olhos e atirado “Vais-te calar, homem?”, quando Trump, mais uma vez, falou por cima dele ao responder a uma pergunta. A dada altura, Chris Wallace levantou a voz e quase gritou, pedindo repetidamente a Donald Trump que deixasse o opositor falar. O presidente incumbente mostrou que o estilo agressivo que o levou à nomeação republicana e vitória sobre Hillary Clinton há quatros anos é o mesmo que irá ostentar neste ciclo eleitoral.
No entanto, os comentadores da CNN – que transmitiu o debate – consideraram preocupantes e mesmo perigosas as posições assumidas pelo presidente, nomeadamente as declarações feitas sobre milícias e supremacistas brancos.
Quando Chris Wallace perguntou a Donald Trump se condenava as ações de milicianos e supremacistas brancos, o presidente começou por dizer que sim mas acabou por hesitar e depois afirmar o que foi interpretado como o contrário.
“Proud Boys, afastem-se e esperem”, disse, declarações que este grupo de extrema-direita imediatamente celebrou nas redes sociais, adornando os seus logotipos com as palavras do presidente.
A questão dos protestos pela violência policial foi uma das mais contenciosas no debate, com Trump a acusar Biden de querer abolir a polícia e Biden a chamar o presidente de “racista”.
De resto, todos os tópicos importantes das eleições foram abordados: a vaga no Tribunal Supremo e a nomeação de Amy Coney Barrett, os 205 mil mortos pela pandemia de covid-19, a recessão económica e a polémica em torno dos votos por correspondência.
Trump foi, inclusivamente, obrigado a responder à notícia do jornal The New York Times, segundo a qual pagou apenas 750 dólares por ano em impostos federais sobre o rendimento desde o início da sua presidência. Antes disso, escreveu o jornal, com base na análise das declarações de impostos a que teve acesso, o presidente pagara zero nos anos anteriores, por declarar prejuízos substanciais nos seus negócios.