As mães que usam os filhos para pedir dinheiro às pessoas nas ruas podem perder a guarda deles, disse o director do Instituto Nacional da Criança (INAC), Paulo Kalesi.
O responsável, que falava ao Jornal de Angola, esclareceu que está a ser feito um trabalho de retirada de crianças de mães que não querem sair da rua. “Já o fizemos a uma senhora que ficava com três crianças e usava-as para poder comover os populares e obter dinheiro fácil, no Largo da Sagrada Família”.
Antes da acção, esclareceu, a mesma senhora tinha sido colocada numa casa arrendada e obteve meios para começar um negócio. “Em menos de um mês, já tinha abandona-do a casa e foi ao centro pedir que lhe devolvessem a criança, numa clara demonstração de aproveitamento e intento de lucro fácil”.
Actualmente, revelou, este trabalho de retirar crianças de mães nas ruas, que as usam para o ganho fácil, já permitiu colocar 15 menores sob custódia do Estado, desde a implementação da iniciativa há três meses.
“Agora, estamos a fazer contactos junto da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Julgado de Menores, para responsabilizar os pais que usam as crianças para o lucro fácil, por ser uma violação clara do dever de protecção social dos filhos”, afirmou.
Paulo Kalesi esclareceu que existem programas de combate à pobreza, implementados a nível dos municípios, no sentido de incluir mais famílias nas acções de empoderamento, mas, ainda assim, há quem prefira ir às ruas. Em relação ao aumento do número de crianças e famílias nas ruas de Luanda, em situação de mendicidade, explicou que acontece, em parte, devido a questões sociais e económicas que o país enfrenta e à busca do dinheiro fácil.
Para o director do INAC, existem famílias, adultos e crianças, que vêem a rua como um lugar de ganho e de preferência, em detrimento das instituições vocacionadas para a sua protecção e cuidados.
“Não temos necessidade de ter crianças nas ruas. Temos lugares para as acudir. É só elas irem para as administrações municipais e notificarem a Acção Social, que terão a ajuda necessária”, garantiu.
O que acontece, explicou, é muitas delas preferirem ir à rua por desconhecimento e outras por puro aproveitamento.
“Às vezes, algumas são retiradas, levadas a um centro ou mesmo para casa, recebem o devido apoio financeiro, para a criação de um negócio, mas, apesar disso, depois de alguns dias, voltam para as ruas”, lamentou.
Os cidadãos, apelou, não devem dar directamente dinheiro ou bens para muitas destas pessoas nas ruas. “O melhor é dar a uma instituição ou a centros de acolhimento, pois existem programas concretos de apoio nas direcções municipais de Acção Social, para as famílias em situação de vulnerabilidade extrema”.
A Bolsa de Solidariedade Social, criada para apoiar estas pessoas, é gerida pela Caritas de Angola, afirmou. “Da experiência que temos, vimos que é vulnerável estar-se na rua, não há lugar mais seguro do que num estabelecimento”, destacou.
Paulo Kalesi criticou este tipo de acção de pais e tutores, que também passa a imagem de que nada se faz e não haver políticas de protecção à criança. “Mas não é verdade”.
Fonte: Jornal de Angola