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    Abe-se que um amor foi o primeiro quando ele continua a ser o único. Ou quando se perdeu para sempre, mas ficou na memória, tantos amores depois. Uma espécie de impressão digital, lembrada com uma doce nostalgia ou recordada com um amargo de boca. E aqui, os detalhes contam. Um gesto, um tom de voz, uma palavra dita de certa maneira, uma música, um acessório de vestuário podem espoletar, num momento ou circunstância, essa cena primordial, remetendo sem aviso para uma dimensão outra que, de uma forma singular, moldou a pessoa que um dia fomos. Ou que ainda somos.

    “Era o tipo mais alto da turma e tinha 12 irmãos, todos rapazes. Eu era a mais alta das raparigas, ficámos ao lado um do outro nas aulas e o nosso jogo de sedução começou ali, sem ninguém saber.” Luísa, de 40 anos, divorciada e com um filho, tinha 17 quando o conheceu, após ter estado num colégio de freiras, em Lisboa. Tudo era novidade e pretexto para testar limites. Daí ao primeiro beijo foi um passo. Mais tarde, numa sessão de estudo em casa dela, vieram “os primeiros amassos” e a descoberta do corpo. “Tudo o que idealizava que podia ser foi ali, na alcatifa do meu quarto; aquelas tíbias e fémures encaixavam bem, apesar de não percebermos nada daquilo, por sermos ambos virgens”, confessa, entre sorrisos. O namoro, que define como um “deslumbre”, durou um ano e terminou no final do Verão. “Ele tinha menos liberdade que eu e aquilo começou a ser restritivo para mim, que sempre fui um bocado turbulenta.” O fim foi tão nobre como o princípio: “Toma lá a minha cruzinha, dá-me cá o teu fio.” Com a espontaneidade e leveza próprias da adolescência, que nunca mais se voltam a ter. Na memória ficou “o sentido de rectidão dele, que apesar de estar em pulgas para a brincadeira, nunca me fez sentir usada”. Voltou a encontrá-lo, mais tarde, já como chefe de família. Recordar-se-á, contudo, “do bonito que foi”.

    Nas águas profundas de um primeiro amor, nada é seguro nem inócuo. A paixão original é como um teste de personalidade “todo-o-terreno”, capaz de gerar terramotos internos, como sugere a escritora Inês Pedrosa no romance Fazes-me Falta (Publicações Dom Quixote): “Provavelmente só se separam os que levam a infecção do outro até os limites da autenticidade, os que têm a coragem de se olhar nos olhos e descobrir que o seu amor de ontem merece mais do que o conforto dos hábitos e o conformismo da complementaridade.”

    O contacto visceral com aspectos essenciais de cada um é outra das “virtudes” do primeiro amor. O sociólogo italiano Francesco Alberoni, mundialmente famoso por estudar o tema, elege o enamoramento como um estado nascente, transformador, que “aproxima a pessoa mais simples dos poetas”, revelando poderes e verdades próprias, nunca reveladas de outro modo. Daí que os grandes e inflamados amores sejam lidos aos olhos alheios como fruto da loucura e alvo de medo: a imprevisibilidade e a fragilidade associadas à experiência de entrega total, e tantas vezes de forma exacerbada, abalam crenças e alicerces de vida.

    Sem garantias de obter o final desejado, cada qual defende-se como pode e sabe, apelando, por fim, à razão e à sensatez, no rescaldo da viagem. Como cantou Rui Veloso, “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz, por muito que o coração diga, não faças o que ele diz”.

    João, 34 anos, solteiro, não tem saudades da sua primeira vez, embora se lembre “demasiado bem” da sua iniciação nas lides com o sexo oposto. “Senti-me um parvo quando um dos meus amigos me entregou um bilhete dela, a dizer ‘atreve-te’, no intervalo de um jogo de futebol que organizávamos aos sábados, no meu bairro.” Ele ainda estava na fase imberbe. Ela, mais desenvolta, com as duas amigas inseparáveis, era “completamente inacessível”. João deu por si a perder os jogos e os companheiros faziam troça. “Para mim, aquilo era mais um teste de competição, tinha de mostrar que estava à altura mas sentia muito embaraço.”

    Ainda hoje é visitado por esse fantasma da inibição, sempre que se sente seduzido por uma mulher. “Tenho que ser eu a seduzir, caso contrário sinto-me intimidado.” Essa experiência só veio mais tarde, quando teve a primeira namorada a sério. Armou-se em forte diante da jovem que costumava apanhar o mesmo comboio que ele, na estação de Belém, e sentou-se ao lado dela. “Por sorte, nesse dia não havia mais nenhum lugar livre”, recorda. Ela sorriu, calada, e o silêncio começou a ser difícil de suportar. “Importas-te que te pergunte o nome? Vemo-nos sempre aqui e se calhar até somos vizinhos.” A coisa correu bem e, a seu tempo, lá foram fazendo amizade. Seguiu-se a primeira ida ao cinema a dois, o clássico tocar de mãos, “ainda me lembro de como estavam transpiradas”, e o beijo furtivo que não deu lugar ao temido estalo ou insulto. João orgulha-se do dia em que disse aos amigos que tinha uma namorada, mas as saídas em grupo podiam ter corrido melhor. “Não gostava de a ver ser cobiçada por outros, queria-a só para mim, ela começou a chamar-me egoísta e ciumento ao fim de alguns meses.” Alguns amuos e pazes feitas depois, acamparam sozinhos durante quatro dias. “Foi fantástico”. Durou pouco. A “sua” Inês mudou de casa, com os pais. Um dia ela disse-lhe que tinha conhecido outro rapaz por quem tinha um fraquinho, e não queria magoar nenhum dos dois. “Fiquei estragado e disse-lhe que não queria mais falar com ela. Nunca mais a vi. Também nunca mais a esqueci.”

    Onde arrumar as cinzas desse episódio a que uns chamam erro de casting, outros uma oportunidade perdida? No livro Os Meus Problemas, Miguel Esteves Cardoso é peremptório: “O primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz ou mais arrumado. Mas não pode ser (…) Depois do primeiro amor, morre-se e quando se renasce há uma ressaca. (…) Parece impossível porque foi. Não deu nada do que se quis (…) É por ser insustentável e irrepetível que o primeiro amor não se esquece.”
    A perda da inocência associada ao processo, que marca o “antes” e o “depois”, é que torna um evento que seria banal numa marca de percurso, como explicou a socióloga Laura Carpenter à revista Psychology Today: “É a única vez na vida em que uma pessoa se entrega sem saber o que é ser magoado nem ter o coração partido.”

    Os primeiros desencontros amorosos constituem uma parte inevitável da maturidade, pois a partir deles se ganha consciência dos limites individuais. E apesar de os relacionamentos posteriores terem maior probabilidade de serem melhores, as memórias, sentimentos e até as motivações da paixão inicial podem desencadear-se como um rastilho quando se está à beira de estabelecer uma nova ligação romântica. Quem não deu por si a olhar para o novo parceiro e encontrar nele pequenas semelhanças com o primeiro ‘ex’, em gestos, expressões, preferências gastronómicas ou actos privados?
    Contra todas as probabilidades, há quem consiga ver no antigo sonho perdido o prelúdio de uma história maior que, com um novo protagonista, terá agora, por fim, condições e asas para voar. Mas o contrário é bem mais comum.

    Aos 36 anos, com dois filhos e um divórcio recente, Ana continua a achar irónico o facto de o seu primeiro amor ter vindo a casar com uma mulher que tinha o mesmo nome. Um ano depois de namorar com o que viria a ser o seu, agora, ex-marido, o jovem por quem se enamorara aos 16 anos na praia da Ericeira, contactou-a e só então ficou esclarecido o motivo que levou ao fim inexplicável daquele “encontro de almas gémeas” com apenas um ano de diferença de idades. Começou com uma troca de olhares e ganhou a forma de uma paixão intensa num curto espaço de tempo. “Só dessa ve
    z tive com alguém uma afinidade daquelas em que quase não é preciso falar; lembro-me de termos saído da discoteca a meio da noite e ficarmos os dois ao relento, sem precisar de mais nada.” Ana admite que o seu príncipe não correspondia sequer ao seu ideal físico de homem, só sabe que foi uma ligação totalmente “absorvente”, com dias e noites sempre juntos, como num conto de fadas. Na rentrée, tudo mudou. O rapaz foi para S. Diego, na Califórnia, com familiares, e quando voltou esteve algumas semanas sem ligar. Quando se viram de novo, ele quis acabar e nunca lhe disse porquê.

    Ana continuou a pensar nele quando já tinha um namoro firme com o que viria a ser o seu actual ex-marido. O embate sofrido então seria explicado mais tarde, quando ficou a saber que “ele se afastou por ficar assustado por a relação estar a tomar um rumo sério tão rapidamente” e queria, arrependido, voltar atrás. Para ela, era tarde demais: “Sofri horrores, não queria magoar-me outra vez e optei por manter a relação que tinha na altura, sem correr mais riscos.” Ter seguido a voz da razão acabou por se revelar uma escolha errada, sabe-o hoje. Ainda chegou a cruzar-se, casualmente, com o pai da sua grande paixão, por motivos profissionais, e foi sabendo noticias dele. “Já passaram 20 anos e ainda mexe comigo.” Talvez por isso não se arrisque a passear na Ericeira.

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